sexta-feira, 5 de abril de 2019

Shiva Sutras de Vasugupta / Introdução

       Śiva Sūtras de Vasugupta

        Introdução (para melhor entendimento, leia antes dos sūtras)
O Śiva-sūtras é uma coleção de setenta e sete aforismos que formam a base do Shivaísmo da Caxemira. Eles são atribuídos ao sábio Vasugupta do século IX DC que viveu perto da Montanha Mahadeva, no vale do rio Harvan, atrás do que hoje são os Jardins Shalimar, perto de Srinagar. Segundo a lenda ele recebeu os aforismos em um sonho do Senhor Śiva que o instruiu a ir a uma certa rocha na qual ele encontraria os ensinamentos inscritos. Esta rocha chamada shankaropala ainda é visitada por devotos.
        Vários comentários foram escritos por contemporâneos ou sucessores da Vasugupta. O mais famoso deles é o Vimarshini de Kṣemarāja (séc. X DC.) que foi traduzido para o inglês por Jaideva Singh e Swami Lakshman Joo. Outro comentário é o chamado Varttika de Bhaskara (séc. XI DC.) que foi traduzido para o inglês por Mark Dyczkowski.
        Historicamente, os Śiva-sūtras e a escola do Shivaísmo da Caxemira são uma tradição tântrica ou agâmica. Os tântricos situavam-se além e independentes das escolas de pensamento e práticas védicas tradicionais e, também, das regras que haviam sido estabelecidas por elas.
        O Śiva-sūtras é, na realidade, um manual de yoga. Está dividido em três unmēṣas (despertares), cada um tratando de um meio particular (upāya), para alcançar a independência (liberdade absoluta). O primeiro é o śāmbhavopāya, a disciplina específica do shivaísmo e corresponde ao jnanayoga. O segundo, o śāktopāya é uma disciplina śākta e consiste no uso de mantras (mantraśāstra). O terceiro chamado āṇavopāya é o aṣṭāṅga yoga de Patañjali.
        O objetivo do śāmbhavopāya é eliminar os três mālas (impurezas) que vedam a luz da consciência, caitanyam (ātmā). Essas três impurezas são, o āṇavamāla, falha do homem, que sendo idêntico a Śiva considera-se um ser limitado e desprovido de independência. A seguinte é o māyīyamāla, a raiz do universo manifesto, que produz o tattva Kalā identificando Ātma à Buddhi e, assim, gera a consciência comum; é chamada de Yonivarga. A terceira é o kalāśarīram, chamada de kārmamāla, o repositório do karma.
        O segundo unmēṣa trata-se do śāktopāya e este é, portanto, um mantrashastra. Um Mantra é uma mera concatenação de sons, absolutamente ineficaz até que citta atinja a unidade com a divindade. Os Mantras são o corpo da Shakti, a Mātṛikā. Ela está latente no homem comum, como uma serpente adormecida enrolada em volta de uma centelha de luz. A concentração nesta centelha, a desperta; a enrolada fica reta, e quando ela é dominada, o homem alcança Mantravirya ... Mas o conhecimento dos Mantras, correspondências entre as letras e suas śaktis, que constituem o Matrika Cakra, tem que ser aprendido com um Guru. Os princípios do Matrika Cakra são: As vogais indicam as śaktis: 'a', jñana śakti; 'i', icchā śakti; e 'u' kriya śakti. As consoantes indicam o universo objetivo. As 25 letras de 'ka' à 'ma' representam os 25 tattvas inferiores. As outras letras representam os tattvas superiores; e o último é o prāṇa-bīja (क्ष), a semente da vida.
        O terceiro unmēṣa é o āṇavopāya. O puruṣā que identifica ātmā com citta é o aṇu (jīva) e fica envolto por três véus. O primeiro véu é o corpo físico, o próximo é o puryaṣṭaka composto de prakṛti, guṇas, buddhi, ahaṃkāra, manas, órgãos (dos sentidos e de ação), elementos sutis (tanmātras) e elementos grosseiros (bhutas). O terceiro é o kañchuka, composto de niyati, kāla, rāga, vidyā e kalā, as forças do karma, tempo, desejo, percepção comum e consciência limitada, tudo devido a māyā. Deve-se transcender cada grupo de tattvas que formam um véu, meditando neles como sendo apenas um corpo. Este é dhyāna e deve ser acompanhado por prāṇāyāma, dhāraṇa, pratyāhāra e samādhi. Este progresso gradual em direção a Samādhi é a característica do āṇavopāya, mas śāmbhavopāya leva ao mesmo objetivo sem esforço.
        Os Tattvas são usados ​​para explicar a criação e a existência do Universo. Eles são geralmente divididos em três grupos: Shudda (puros) tattvas; Shuddhashuddha (puros-impuros) tattvas; e Ashuddha (impuros) tattvas. Os tattvas puros descrevem aspectos internos do Absoluto, enquanto os tattvas puros-impuros descrevem o Self e suas limitações. Os tattvas impuros incluem o universo e os seres vivos que auxiliam a existência da 'alma'. A escola monista do Shivaísmo da Caxemira concebe o universo como o processo de expansão do Absoluto, indicado por muitos termos, dependendo da escola e dos textos, muitas vezes como Paramaśiva ("Supremo Shiva"), ou mais simplesmente por Shiva; até Maheśvara ("Grande Senhor"); ou Parameśvara ("Senhor Supremo").
        Parameśvara (O Absoluto), também, não cria o mundo, mas se expande ou, como é descrito no Tantrāloka, se reflete em si mesmo como mundo. Portanto, Ele está além de qualquer outra coisa que pode ser experimentada, e o princípio do qual tudo deriva e do qual tudo é parte, deve ser entendido como tendo ao mesmo tempo as qualidades de transcendência e imanência. A expansão do Absoluto (cosmogonia) é descrita através de um conjunto de 36 princípios (tattvas), categorias entendidas como emanações do próprio Absoluto. Entre os poderes do Absoluto estão os diferentes aspectos da Śakti: 1- Cit: "Consciência transcendente". Poder intelectual (cit śakti) é a onisciência de Paramaśiva, descrita como Consciência absoluta. 2- Ānanda: "bem-aventurança". O poder da bem-aventurança (ānandaśakti) é descrito como exuberância espontânea, a alegria de Paramaśiva, algo como um jogo de criança (lilā) ou uma dança livre e feliz. Paramaśiva revela o mundo precisamente por causa dessa habilidade. 3- Icchā: "vontade". O poder da vontade (icchāśakti) é o potencial criativo. É o poder que revela o desejo e a vontade de Ser. 4-Jñāna: "conhecimento". O poder do conhecimento (jñānaśakti) é a capacidade de ideação, é a consciência do múltiplo dentro da unidade. 5- Kriyā: "atividade". O poder da atividade (kriyāśakti) é a capacidade de fazer os múltiplos aparecerem no mundo, sempre dentro da unidade.

        Os 36 tattvas do Shivaísmo da Caxemira são: Os cinco tattvas puros (Suddha tattvas) que descrevem aspectos internos do Absoluto.
1- Śiva. Também conhecido como Sakala tattva. Um dos dois aspectos do Absoluto, onisciente, onipresente e ilimitado.
2- Śakti. Outro aspecto do Absoluto. A polaridade Śiva-Śakti causa a criação de todos os tattvas inferiores; é onisciente e constantemente ativa. Estas duas propriedades da dupla Śiva-Śakti são conhecidas como jñāna e kriyā respectivamente. É a Śakti que polariza a Consciência em Ahaṃ (Self) e Idaṃ (isto).
3- Sadākhya. Também chamado Sadāśiva tattva. Estado em que há a primeira noção do Ser; pois aqui aparece incipientemente a primeira noção de "Aham e Idam" (Eu sou isso), que finalmente se torna um Eu "Self" e  o objeto "Isto" separados.
4- Īśvara. Īśvara tattva é a afirmação do objeto sobre o sujeito; é "este sou eu". Neste estágio predomina jñānaśakti o poder do conhecimento.
5- Śuddha Vidyā. Também conhecido como Sadvidyā. Śuddhavidyā tattva é o estágio no qual o sujeito e o objeto se equilibram e se conhecem distintamente, mas unidos; é "Eu faço isto" (ou também "Eu sou e isto é"). Neste estágio predomina kriyāśakti, o princípio da ação.
Os sete tattvas puros-impuros ou Vidyā tattvas descrevem a 'alma' e suas limitações, e são os "instrumentos" que auxiliam as 'almas' para sua liberação. O Self ou Ātman é considerado como "Puruṣa tattva" aqui, enquanto a manifestação final do todo-poderoso é conhecida como "Māyā tattva". Maya se manifesta em mais cinco tattvas conhecidos como "kanchukas" e estes seis tattvas se juntam ao puruṣa tattva e, assim, produzem sete vidya tattvas.
6- Māyā. A sexta categoria, que finaliza o caminho puro (śuddha), ao iniciar o caminho impuro (aśuddha), é māyā, outro aspecto do próprio poder divino, o poder da auto-limitação. Māyā tattva, portanto, não é "ilusão" no sentido que o Vedānta dá a esse termo, mas o poder do Absoluto, poder criativo do universo que pode ser experimentado. Em virtude da emergência de māyā, então, o 'Eu' e 'Isto' ficam definitivamente separados, a unidade original é bifurcada e a Consciência se divide em sujeito e objeto, é fragmentada em detalhes infinitos. Māyā opera através de uma série de cinco limitações, chamadas kañcuka ("manto" ou "armadura").
        Estes cinco kañcukas impedem o sujeito de reconhecer a natureza divina do Universo:
7- kāla - o manto do tempo. 8- vidyā - o manto do conhecimento limitado. 9- rāga - o manto do desejo. 10- niyati - o manto da causalidade. 11- kalā - o manto de ser limitado.
        A segunda parte da jornada impura, por outro lado, com algumas diferenças interpretativas, segue o conjunto das 25 categorias do Sāṃkhya, com um processo de individuação que dá origem ao Self limitado (puruṣa, conceito que indica o complexo de todas as "almas"). A matéria (prakṛti), é entendida não apenas como um substrato material, mas também mental... veja: Sāṃkhya.
Os 25 tattvas são: "No sistema clássico, o primeiro princípio é (1) prakṛiti, considerado a causa da evolução. De prakriti emerge (2) intelecto (buddhi, também chamado mahat), em seguida (3) (ahaṃkāra) a autoconsciência, self. Da autoconsciência emergem os cinco elementos sutis (tanmātra): (4) odor (gandha), (5) sabor (rasa), (6) forma (rūpa), (7) tato (sparśa) e, (8) som (śabda). A partir dos elementos sutis emergem os cinco elementos materiais (mahābhūta): (9) Espaço ou éter (ākāśa), (10) ar (vāyu), (11) fogo (tejas ou agni), (12) água (ap) e (13) terra (pṛthivī). Em seguida, emergem os cinco órgãos dos sentidos (jnanendriya): (14) audição (śrotra) , (15) tato (tvak), (16) visão (cakṣus), (17) gosto (jihvā) e (18) cheiro (ghrāṇa), e cinco órgãos de ação (karmendriya): (19) fala (vāc), (20) apreensão (pāṇi), (21) locomoção (pāda), (22) evacuação (pāyu) e (23) procriação (upastha). Finalmente, a autoconsciência (ahamkara) produz o vigésimo quarto dos elementos básicos: (24) mente (manas), que, como um sexto sentido, faz a mediação entre os dez órgãos e o mundo exterior. O último, vigésimo quinto, tattva é (25) puruṣa."

॥ श्रीशिवसूत्राणि ॥ ॥ śrīśivasūtrāṇi)॥ Śrī Śiva Sūtras
१- शाम्भवोपाय [śāmbhavopāya] Primeiro Despertar [Método de Śambhū (Śiva)]
1- चैतन्यमात्मा ॥ १॥ [caitanyamātmā] ॥ 1॥
चैतन्यम् [caitanyam] Caitanya significa "consciência" ou "alma universal". É a consciência pura ou a natureza essencial do universo, consciência que tem absoluta liberdade de conhecimento e atividade (svātantrya)* आत्मा [ātmā] (Ātman) significa "essência, respiração, alma. O hinduísmo considera o Ātman eterno, imperecível, além do tempo. Ātman é um conceito metafísico e espiritual para os hindus, frequentemente associado em suas escrituras com o conceito de Brahman. Ātman, às vezes escrito sem um diacrítico como atman na literatura acadêmica, significa o "Self " do indivíduo (essência mais íntima), a alma*
A Consciência que é onisciente e onipotente e que tem absoluta liberdade (caitanyam) é o Self (ātmā).
Kṣemarāja: Caitanya é ātmā, e se refere a todo o universo que consiste em formas reais e irreais. "A consciência é Śiva anāśrita, a alma do universo, em oposição à teoria de que jīvātman e Īśvara são seres distintos". O que é conhecido é idêntico ao cit (consciência) que é auto-luminoso; daí caitanya é o mesmo que ātmā. Este primeiro sutra, por outro lado, afirma que o ser individual e o ser universal formam uma unidade. A realidade de todo este universo é a consciência Absoluta. Se a essência do universo, que é composta de seres conscientes e inconscientes, é a consciência de Paramaśiva, como pode surgir a escravidão? Neste segundo sūtra, o autor, ao unir e separar os dois primeiros sūtras “caitanyaṁ ātmā” e “jñānaṁ bandhaḥ”, unindo a letra a e não a unindo, responde à pergunta “Onde pode existir escravidão?”
2- ज्ञानं बन्धः ॥ २॥ [jñānaṃ bandhaḥ ॥ 2॥
ज्ञानम् [jñānam] conhecimento (empírico), sabedoria, erudição* बन्धः [bandhaḥ] servidão, apego, ligação*
Conhecimento é servidão.
Kṣemarāja: Foram descritos por meio deste Sutra os dois tipos de āṇavamala. (1) O que tem sido chamado de caitanya é caracterizado por independência; embora seja um ser consciente, se não exercer sua independência perde, portanto, sua sabedoria e pensa: “Eu sou finito” (essa é a escravidão do jñāna). (2) Aquele que perdeu sua independência por sua própria impureza, e pela atribuição das características do ātmā ao que não é ātmā, isto é, ao corpo, também é escravidão. A perda de independência do conhecedor e a perda de conhecimento pelo ser independente, são a forma dupla de āṇavamala, devido à supressão de sua natureza real.” Agora, está essa escravidão āṇavamala sozinha? Não. Por isso é citado no próximo Sutra:
3- योनिवर्गः कलाशरीरम् ॥ ३॥ [yonivargaḥ kalāśarīram] ॥ 3॥
योनि [yoni] causa (do mundo objetivo)* वर्गः [vargaḥ] classe* कला [kalā] atividade (limitada)* शरीरम् [śarīram] forma * योनिवर्गः [Yonivargah] significa maya e seus desdobramentos; e kalāśarīram [karmamala] incorporação de ações motivadas pelo karma.
Yonivargah [Māyīyamala] e kalāśarīram [kārmamala] também causam escravidão.
        Kṣemarāja: "... a palavra caitanya significa a completa liberdade da consciência universal. Por causa da impureza āṇavamala, junto com kalā (ação limitada) e vidyā (conhecimento limitado), caitanya (a consciência universal independente) é perdida. É absorvida em rāga (apego) e limitada por kāla (tempo). Está confinada na escravidão de niyati (apego a um objeto particular). Essa limitação é fortalecida pela limitação do ego. É absorvida no corpo de prakṛiti e unida aos três guṇas, sāttva, rājas e tāmas. Fica estabelecida no intelecto (buddhi). Este Self Universal é limitado no self individual (jīvātman). Ele é limitado pela mente, pelos órgãos do conhecimento, pelos órgãos de ação, pelos cinco tanmatras e, finalmente, pelos cinco elementos grossos..." 
         O karma é bom ou ruim. Sempre que você fizer alguma ação, será uma ação boa ou ruim. Com boas ações, você cairá, com más ações, você cairá. Somente a ação independente leva você ao Senhor. E isso não é realmente ação, mas svātantrya. A ação é sempre limitada e sempre boa ou ruim. Mas agora a pergunta pode ser feita: como este mala tríplice se torna a causa da escravidão?
4- ज्ञानाधिष्ठानं मातृका ॥ ४॥ jñānādhiṣṭhānaṃ mātṛkā] ॥ 4॥
ज्ञान [jñāna] conhecimento (limitado)* अधिष्ठानम् [adhiṣṭhānam] base* मातृका [mātṛkā] mãe desconhecida ou incompreendida que gera todo universo, ou o poder do som que corresponde às letras do alfabeto.*
Mātṛikā (Mãe ou poder do som) é a base do conhecimento.
Kṣemarāja: Mātṛikā, a Mãe Universal, é a regente do conhecimento triplo que consiste em āṇavamala, māyīyamala e kārmamala. Aqui, a palavra mātṛikā significa ajñātā mātā. Ajñātā mātā é o estado onde a energia universal é conhecida de maneira errada. Quando a energia universal é conhecida de maneira correta, é svātantrya śakti. Quando é conhecido de maneira errada, é a energia da ilusão e é chamada de māyā śakti. Então mātṛikā é ambos. Mātṛikā significa ajñātā mātā quando a energia universal não é conhecida corretamente e Svātantrya quando é conhecida corretamente. Isso significa que Svātantrya controla os três instrumentos de escravidão. Svātantrya é sua vontade: Se você se liga ou se você se liberta, ambos estão sob o seu controle. O tríplice mala, que foi definido anteriormente, é primeiro o sentimento de incompletude, conhecimento limitado e as impressões de prazer e dor. A regente destas três malas é, portanto, a Mãe Universal (mātṛikā) que permeia todas as letras do alfabeto de 'a' a 'kṣa'. Esta mãe não somente permeia o mundo do alfabeto (vācaka), mas também o mundo objetivo (vācya) formado por todas as letras. Vācya significa o mundo ou os objetos criados pelas palavras que, por sua vez, são a combinação das letras ou o poder inerente a elas.
5- उद्यमो भैरवः ॥ ५॥ [udyamo bhairavaḥ] ॥ 5॥
उद्यमः [udyamaḥ] o ato de levantar, elevação, eclosão, reluzir* भैरवः [bhairavaḥ] Realidade Suprema (Para Brahman)*
Bhairava é a elevação repentina da consciência pura. 
        Kṣemarāja: Bhairava é a eclosão espontânea da Consciência Pura. Udyama é o reluzir da Luz Suprema (Pradbhā), a elevação repentina da consciência pura que flui como uma meditação ininterrupta. É o mesmo que Śiva-Śakti. Esse udyama pode, por si só, ser chamado de Bhairava, na medida em que é o meio para revelar Bhairava, que é o seu Ser essencial. Esse udyama aparece naqueles que são devotados a Ele, porque toda a sua atenção está concentrada no princípio Bhairava interior. Isso é o que foi ensinado neste sutra.
        Agora, no sūtra seguinte, o autor explica como, pela intensidade da meditação (parāmarśa), o estado externo da consciência dualista é absorvido na consciência não-dualista.
6- शक्तिचक्रसन्धाने विश्वसंहारः ॥ ६॥ [śakticakrasandhāne viśvasaṃhāraḥ´] ॥ 6॥
शक्ति [Śakti] poder, força, energia * चक्र [cakra] círculo, roda, multidão* शक्तिचक्र [śakticakra] roda das energias* सन्धाने [sandhānē] unindo, juntando* विश्व [viśva] todo universo* संहारः [sanhāraḥ] dissolução, desaparecimento*
A união com śakticakra, [produz] a destruição do Universo.
Kṣemarāja: "Quando a consciência Bhairava surge, o universo inteiro aparece como uma expressão da Śakti de Śiva e quando a mente do aspirante está unida àquela Śakti com intensa concentração, o mundo como algo separado da consciência desaparece... a manifestação do śakti-cakra em todos os estágios da criação, isto é, em todas as experiências psíquicas, desde a cognição comum dos objetos, até o estágio final do Supremo Conhecedor, é apenas um jogo dela consigo mesma. Na meditação regular sobre o śakti cakra que se manifesta como acima, da maneira prescrita nas escrituras secretas, produz-se a destruição do universo de Kalagni a Rasakala. O universo composto de corpos e objetos é queimado no fogo. da consciência suprema. Está expresso no Bhargashikha: "Ele então engole tudo isso, morte, tempo, a totalidade dos kalās, todos os fenômenos, todos as cognições, todas as diferenças dos ātmās". Também no Viravall: "Eis a pira funerária no corpo, que brilha como o Kalanala, onde todos os tattvas vão para o pralaya. “Essa coisa que não pode ser descrita em palavras, deve ser realizada apenas pela mente. O estado que todos alcançam é chamado de Shakta". Isto tem que ser desenvolvido pela devoção aos pés do verdadeiro guru e não pode ser descrito completamente.

7- जाग्रत्स्वप्नसुषुप्तिभेदे तुर्याभोग(संवित्)सम्भवः ॥ ७॥ [jāgratsvapnasuṣuptibhede turyābhoga(saṃvit)sambhavaḥ] ॥ 7॥
जाग्रत् [jāgrat] vigília* स्वप्न [svapna] sono * सुषुप्ति [suṣupti] sono profundo* भेदे [bhede] diferente* तुर्य [turya] quarto estado* आभोग [ābhoga] prazer e desfrute* संवित्स [saṃvit] reconhecimento* म्भवः [sambhavaḥ] há*
O estado de consciência turya é experimentado através dos estados diferenciados de vigília, sonho e sono profundo.
Bhaskara: Diz-se que o Quarto Estado é (contemplação), ié. a consciência reflexiva da unidade (Ser indiviso) da própria natureza essencial (svasvarupaika-ghanata) porque permeia todos (outros estados) da consciência. É a consciência, chamada de extensão do Quarto Estado da condição permanente em que a ignorância desapareceu. É a natureza (interna) do sujeito que percebe que assim permanece claramente evidente e se estende (como um) mesmo quando a divisão prevalece devido à vigília e a outros estados.
8- ज्ञानं जाग्रत् ॥ ८॥ [jñānaṃ jāgrat] ॥ 8॥
ज्ञानम् [jñānam] conhecimento* जाग्रत् [jāgrat] estado de vigília*
Durante o estado de vigília ocorre a formação do conhecimento intelectual.

9- स्वप्नो विकल्पाः ॥ ९॥ [svapno vikalpāḥ] ॥ 9॥
स्वप्नः [svapnaḥ] sono* विकल्पाः [vikalpāḥ] fabulação, fantasia*
O estado do sono é permeado por fabulações e fantasias.

10- अविवेको माया सौषुप्तम् ॥ १०॥ [aviveko māyā sauṣuptam] ॥ 10॥
अविवेकः [avivekaḥ] falta de discernimento* माया [māyā] ilusão* सौषुप्तम् [sauṣuptam] sono profundo*
O estado de sono profundo é māyā, ausência de discernimento.
Kṣemarāja: Dá o sentido usual e convencional dos três estados de consciência, isto é, vigília, sonhar e dormir sem sonhos. O estado de vigília é aquele em que o conhecimento dos objetos é produzido nas pessoas por meio dos sentidos externos e os objetos têm uma conotação comum para todos. O estado onírico é aquele em que o conhecimento é produzido apenas pela mente (sem contato com o mundo externo), que é meramente uma construção de pensamento (vikalpah) e que tem um objeto incomum (ou seja, que é um tipo particular de conhecimento para cada indivíduo). É chamado de sonho porque é caracterizado por uma ideação não comum. Aquilo que é um estado de aviveka, ou seja, completa falta de consciência é o sono profundo ilusório. Ao definir estado de sauṣupta, o sutra descreve incidentalmente também a natureza de Maya que deve ser eliminada.

11- त्रितयभोक्ता वीरेशः ॥ ११॥ [tritayabhoktā vīreśaḥ] ॥ 11॥
त्रितय [tritaya] na tríade (vigília, sono e sono profundo)* भोक्ता [bhoktā] desfrutador* वीरे [vīra] herói (aqui, sentidos) * इशः [iśaḥ] senhor*
O desfrutador dos três estados é o senhor dos sentidos.
Kṣemarāja: Os "três estados" são, como seria de esperar, aqueles de vigília, sonhar e dormir profundamente, enquanto o "Senhor dos Heróis" é o iogue que, tendo descoberto sua verdadeira identidade divina, é dono de seus sentidos. A lacuna entre um estado e o próximo através do qual o iogue vislumbra o Quarto Estado, expande-se até que ele seja levado além de todos os níveis e estados em sua experiência da unidade do absoluto (anuttara). Consciente da verdadeira natureza do sujeito e do objeto em todos os três estados, o yogin não é mais uma vítima (bhogya) desses estados, mas seu mestre, e alcança a liberação ainda em vida (jīvanmukti).
12- विस्मयो योगभूमिकाः ॥ १२॥ [vismayo yogabhūmikāḥ] ॥ 12॥
विस्मयः [vismayaḥ] maravilhoso, surpreendente* योग [yoga] yoga* भूमिकाः [bhūmikāḥ] estágios*
Os estágios do yoga são surpreendentes.
Kṣemarāja: Quando um homem vê algo novo e peculiar, ele sente uma sensação de surpresa. Da mesma forma, quando um grande yogin percebe, contempla ou desfruta inesperadas, excelentes e novas experiências ”que fluem em sua consciência, de acordo com suas faculdades superiores que estão sendo abertas, ou ampliadas", ele experimenta uma sensação de surpresa. Estas são as etapas que levam à união com o princípio supremo. Eles são os estágios de descanso na ascensão do Yogin; são regiões de consciência limitada e não estados quando kanda, bindu, etc., são experimentados. A mesma ideia foi expressa no Kulayukti: "Quando os aspirantes percebem o Self por si mesmos, o Self experimenta uma agradável surpresa dentro de si mesmo."

13- इच्छाशक्तिरुमा कुमारी ॥ १३॥ [icchāśaktirumā kumārī] ॥ 13॥
इच्छाशक्तिः [icchāśaktiḥ] Poder da vontade* उमा [umā] Umā (esplendor de Śiva)* कुमारी [kumārī] Kumari (natureza lúdica de uma jovem virgem)*
O poder da vontade do yogin que está unificado a Śiva é Umā (esplendor de Śiva) que é Kumari.
Kṣemarāja: Sua vontade é a energia (śakti) do Senhor Śiva. E, sua vontade não é apenas energia, ela também é chamada de umā e kumārī. O autor forneceu esses três nomes para a vontade de tal yogin. A vontade do yogin, que alcançou completamente o estado de Bhairava e se identificou com o supremo Bhairava, é a energia do Senhor Śiva. Também se identifica com umā. Aqui, neste sūtra, a palavra umā não se refere à esposa do Senhor Śiva. Aqui a palavra umā refere-se à energia independente do supremo Senhor Śiva (svātantrya). A vontade deste yogin também é chamada de kumārī. A palavra sânscrita kumārī pode ser traduzida e entendida de várias maneiras. Pode ser que kumārī se refira a essa energia que atua no universo, criando, protegendo e destruindo-o. Mas por que usar essa definição? Porque na gramática sânscrita, a palavra kumāra está contida no significado de krīḍā, que significa “diversão”. Kumārī, portanto, significa aquela energia que sempre entra em jogo.

14- दृश्यं शरीरम् ॥ १४॥ [dṛśyaṃ śarīram] ॥ 14॥
दृश्यम् [dṛśyam] visível, perceptível* शरीरम् [śarīram] corpo*
Todos os fenômenos objetivos externos ou internos são como seu próprio corpo.
Kṣemarāja: "O que quer que seja perceptível seja interior ou exteriormente, tudo o que parece a esse yogin é como seu próprio corpo, ou seja, idêntico a si mesmo e não como algo diferente dele. Isso é por causa de sua grande realização (de identidade com a consciência Universal). Seu sentimento é (aham idam) 'Eu sou isso', assim como o sentimento de Sadasiva em relação ao universo inteiro é 'Eu sou isso'.

15- हृदये चित्तसङ्घटाद्दृश्यस्वापदर्शनम् ॥ १५॥ [hṛdaye cittasaṅghaṭāddṛśyasvāpadarśanam] ॥ 15॥
हृदये [hṛdaye] coração da consciência* चित्त [citta] mente* सङ्घटात् [saṅghaṭāt] está unida* दृश्य [dṛśya] todo fenômeno * स्वाप [svāpa] estado de sono, vazio* दर्शनम् [darśanam] observável*
Quando a mente está unida ao 'coração da consciência', todo fenômeno observável e até mesmo o vazio aparecem como uma forma de consciência.
Kṣemarāja: Hrdaya (aqui) significa a luz da consciência (cit), na medida em que é o fundamento de todo o universo. Citta-saṅghaṭāt significa a concentração da mente inquieta nisso (na luz da consciência), Dṛśya significa o aparecimento "de todos os fenômenos objetivos como o azul, o corpo, o prana e a mente". Svāpa (sono) significa o vazio, ou seja, a ausência de todo fenômeno objetivo. Darśanam significa a aparência de tudo como é em sua realidade essencial, desprovida da distinção entre sujeito e objeto como um componente de si mesmo. Não há dúvidas de que a mente que entra intensamente na luz universal da consciência fundamental vê todo o universo saturado dessa consciência (cit). "Este Sutra diz que para o yogin que desenvolveu Icchāśakti (Poder da Vontade) , todo o mundo objetivo, incluindo o corpo, aparece como uma forma de consciência".

16- शुद्धतत्त्वसन्धानाद्वापशौशक्तिः ॥ १६॥ [śuddhatattvasandhānādvāpaśauśaktiḥ] ॥ 16॥
शुद्धतत्त्व [śuddhatattva] princípio puro, Paramaśiva* सन्धानात् [sandhānāt] união* वा [vā] ou* अ [a] ausência * पशु [paśu] self limitado * शक्तिः [śaktiḥ] poder *
Ou pela consciência constante do Princípio Puro (Paramaśiva), ele se livra do poder escravizador existente no self limitado.
Kṣemarāja: Suddha tattva significa Paramasiva ou o Supremo Śiva, o Princípio Absoluto, enquanto nisto (Princípio Puro de Śiva ou Consciência Absoluta), ele (o aspirante) se torna consciente do universo como o próprio, ié. como Śiva, então ele se torna o senhor do mundo como Sadaśiva, e como ele se torna não-paśuśakti isto é alguém em quem o poder escravizador atribuído ao paśu (pasvakhya bandhasakti) está ausente (avidyamana). A mesma ideia também foi expressa no seguinte verso do Spandakarika: "Aquele que conhece assim (ou seja, é o próprio experimentador que aparece na forma do objeto da experiência), e considera o mundo inteiro como uma diversão (do Divino), estando sempre unido (com a consciência universal) é, sem dúvida libertado mesmo enquanto vivo (jīvanmukti)".

17- वितर्क आत्मज्ञानम् ॥ १७॥ [vitarka ātmajñānam] ॥ 17॥
वितर्कः [vitarkaḥ] inabalável consciência (vitarka, neste contexto, não significa deliberação que é meramente pensamento-construção, mas consciência inabalável, uma consciência com plena convicção.* आत्मज्ञानम् [ātmajñānam] conhecimento do Self*
Uma consciência com plena convicção (de que é Śiva) constitui o conhecimento do Self.
Kṣemarāja: Para esse yogin, a consciência inabalável de que "eu" sou Śiva, o Self do universo, constitui o conhecimento do "Self". A mesma ideia foi expressa no Vijnana-bhairava no seguinte verso: "O Supremo Senhor é onisciente, onipotente e onipresente. Como eu tenho os atributos de Śiva, eu sou realmente Śiva. Com essa forte convicção, (o yogin) se torna Śiva". (Verso, 102).
        "Quando o yogin afirma que ele é Śiva, todas as dualidades em sua mente são dissolvidas, somente Śiva prevalece, o yogin também se torna Śiva. Isso ocorre por crença e não por raciocínio. O raciocínio não surge porque ele vê tudo com os olhos de Śiva, sujeito e objeto são Śiva".

18- लोकानन्दः समाधिसुखम् ॥ १८॥ [lokānandaḥ samādhi sukham] ॥ 18॥
लोक [loka] mundo (tanto subjetivo como objetivo)* अनन्दः [anandaḥ] júbilo, felicidade * समाधि [samādhi] absorção ou concentração ininterrupta em Śiva* सुखम् [sukham] júbilo (provocado pelo samādhi*
A felicidade que o yogin sente como o conhecedor do mundo (objetivo e subjetivo), é o júbilo provocado pelo samadhi.
Mark Dyczkovisk: A palavra sânscrita loka pode significar três coisas, "luz", "mundo" ou "pessoas". Bhaskara opta pelo primeiro destes significados e assim entende lokānandaḥ como "a bem-aventurança da luz da consciência". Kṣemarāja, no entanto, escolhe os dois últimos significados e assim explica que loka é tanto aquilo que é iluminado pela luz da consciência, ou seja, o campo da objetividade e a luz que o ilumina, ou seja, o sujeito que percebe. É o Ato puro (sphurana) da consciência que, não separa sujeito e objeto (interno ou externo), flui continuamente entre esses dois pólos como a transformação incessante de um para o outro. O yogin envolvido neste movimento está livre da distinção entre sujeito e objeto e repousa no centro entre eles, mesmo quando ele observa ambos na morada da subjetividade universal, onde experimenta a "alegria da contemplação" como o êxtase interior de sua inata felicidade. Ainda, Kṣemarāja sugere que esse aforismo significa que a alegria de contemplação que o yogin sente quando ele repousa em sua própria natureza pode ser transmitida a outros que estão aptos a recebê-lo. O sujeito receptivo que vê o yogin imerso na contemplação, e está consciente de seu estado, experimenta sua bem-aventurança dentro de si também.

19- शक्तिसन्धाने शरीरोत्पत्तिः ॥ १९॥ [śaktisandhāne śarīrotpattiḥ] ॥ 19॥
शक्ति [śakti] poder* सन्धाने [sandhāne] unido* शक्तिसन्धाने [śaktisandhāne] absorvido em Icchāśakti* शरीर [śarīra] corpo* उत्पत्तिः [utpattiḥ] surgir, produção, origem* शरीरोत्पत्तिः incorporação [daquilo que é desejado]*
[Com a mente] uni-direcionada, o yogin fica totalmente unido a Icchāśakti, então ocorre a incorporação [daquilo que é desejado].
Mark Dyczkovisk: Kṣemarāja mais uma vez entende esse aforismo de uma maneira diferente. Ele considera que śaktisandhāne não significa "a união das energias", como entende Bhaskara, mas a "contemplação do poder". Assim, o ensinamento aqui, de acordo com Kṣemarāja, não diz respeito à geração de um novo corpo transfigurado para o yogin, mas à contemplação da vontade. "Iniciação, as práticas que conduzem à obtenção dos poderes (siddhi), Mantra, continuação da prática mântrica e yoga", são todas infrutíferas se não conseguirmos contemplar a energia inata de nossa própria consciência. A fonte de todos os deuses e seus poderes, é a energia vital que anima a respiração e sai de si mesma como conhecimento e ação. Assim, o yogin pode fazer uso do fluxo de energia que ele experimenta no curso de sua contemplação para criar o que quer que deseje, tanto dentro de si mesmo enquanto sonha e externamente no estado de vigília.

20- भूतसन्धान-भूतपृथक्त्व-विश्वसङ्घट्टाः ॥ २०॥ [bhūtasandhāna-bhūtapṛthaktva-viśvasaṅghaṭṭāḥ] ॥ 20॥
भूत [bhūta] entidades existentes* सन्धान [sandhāna] juntar partes, unir* भूतसन्धान [bhūtasandhāna] O poder de unir ou juntar partes* भूतपृथक्त्व [bhūtapṛthaktva] separar elementos* विश्व [viśva] tudo, todos* सङ्घट्टाः [saṅghaṭṭāḥ] reunir, juntar, unir, recolher* विश्वसङ्घट्टाः [viśvasaṅghaṭṭāḥ] o poder de reunir tudo (removido pelo espaço e pelo tempo)*
Os outros poderes sobrenaturais do yogin são: (1) O poder de unir ou juntar partes em todos os existentes. ié. poder de síntese; (2) o poder de separar elementos dos existentes, ou seja, o poder analítico e (3) o poder de reunir tudo (removido pelo espaço e pelo tempo).
        Kṣemarāja: Bhūta significa todos os existentes como corpo, prana, objetos, etc. sandhāna significa sua adição ou união para promover o crescimento, etc. Assim, bhūtasandhāna significa o poder de unir elementos da existência para o aumento ou promoção do crescimento. Bhūtapṛthaktva significa o poder de separar elementos do corpo, etc., para curar doenças físicas, etc. Viśvasaṅghaṭṭāḥ significa o poder de reunir todas as coisas (viśva) removidas pelo espaço e tempo, etc., tornando-as objetos de seu próprio conhecimento. Todos esses poderes se desenvolveram quando ele foi capaz de unir sua consciência com Icchāśakti como mensionado anteriormente. Isto é citado em todos os agamas no capítulo sobre Sadhana (os meios de realizar, dominar, superar).
        No Spandakarika tais poderes foram descritos de uma maneira bem fundamentada no capítulo que lida com poderes super-normais (vibhuti), por exemplo, "Assim como até mesmo uma pessoa fraca prossegue fazendo seu trabalho tomando posse desse poder (spanda) [Spanda = a pulsação criativa Divina; o poder criativo inerente à consciência do Eu], então mesmo aquele que está extremamente faminto pode subjugar sua fome ... [O iogue adquire controle sobre a fome, sede etc. por spandaśakti. Isto descreve o poder de controlar os instintos físicos] (111, 6).
"Assim como um ladrão leva embora os objetos de valor da casa, assim, também, a depressão consome a vitalidade do corpo Esta depressão procede da ignorância. Se a ignorância desaparece por unmesa, como pode essa depressão durar na ausência de sua causa [Este verso descreve o poder de curar todas as emoções] (111, 8)
        "Como uma coisa que era vagamente percebida a princípio, apesar da atenção mental, fica mais clara quando observada novamente com todo o esforço da Vontade, mesmo assim aquela coisa que existia na realidade (yat paramarthena) em qualquer forma (yena), em qualquer lugar ou tempo (yatra), de qualquer maneira (yatha) se manifesta imediatamente de novo (na mesma forma, lugar ou tempo e caminho) para alguém que recorre ao poder do spanda. " [Isso descreve o poder de trazer de volta à consciência todos os objetos e eventos do passado que são desconhecidos] (111, 4 e 5).

21- शुद्धविद्योदयाच्च्क्रेशत्वसिद्धिः ॥ २१॥ [śuddhavidyodayācckreśatvasiddhiḥ] ॥ 21॥
सिद्धिः [siddhiḥ] [O yogin] alcança* ईशत्व [iśatva] o domínio* चक्र [cakra] sobre o grupo coletivo de poderes* उदयात् [udayāt] por meio do surgimento* शुद्धविद्या [śuddhavidyā] o conhecimento puro*
(O yogin) alcança o domínio sobre o grupo das Śaktis através do surgimento do śuddhavidyā (conhecimento puro)".
        Kṣemarāja: Quando o yogin une sua consciência com Śakti através da intensa concentração, então através do aparecimento de Śuddhavidyā (aqui significa aquela consciência suprema na qual tudo aparece como Eu. É o 'unmana avastha'), ele consegue adquirir o supremo poder de Śiva na forma de completo domínio sobre Seu grupo universal de Śaktis..."Ela é considerada Vidyā, porque ela traz a investigação da característica sem começo de Śiva, viz; Svatantrya śakti, porque ela traz o conhecimento do Eu Superior e porque ela dissipa tudo o que não é o Eu Superior. Estabelecido naquele (isto é, no estado de Unmana), pode-se manifestar a mais alta luz (esta luz é a luz primal Cit), a causa mais elevada. Se alguém está estabelecido naquela manifesta Luz mais alta (a luz mais alta é também a causa mais alta, ié. Śiva), ele pode alcançar o estado de Śiva".
        "Este sutra descreve o poder da consciência universal ou consciência cósmica adquirida pelo yogin. Depois de adquirir esse poder, o yogin percebe todo o universo como seu Ser. No sutra 14, foi mostrado que o yogin sente sua identidade com cada objeto, sua consciência é da forma 'Aham-idam' ou 'eu sou isso' em relação a cada objeto separadamente. Aqui se afirma que quando o yogin adquire a consciência universal, sua consciência é da forma 'Aham-eva Sarvam' ié "Eu mesmo sou tudo".

22- महाह्रदानुसन्धानान्मन्त्रवीर्यानुभवः ॥ २२॥ [mahāhrada anusandhānāt mantravīryānubhavaḥ] ॥ 22॥
महाह्रद [mahāhrada] o grande lago, o reservatório infinito do Poder Divino* अनुसन्धानात् [anusandhānāt] pela identificação mental* मन्त्रवीर्यानुभवः [mantravīryānubhavaḥ] experiência da suprema Consciência do Eu (Self) que é a fonte geradora de todos os mantras*
Unindo-se ao grande lago (o reservatório infinito do Poder Divino), (o yogin tem) a experiência da Suprema consciência do Eu (Self), que é a fonte geradora de todos os mantras.
        Kṣemarāja: A suprema Consciência (para-samvit) [Parasamvit, paraśakti, parahanta, paravak e svātantrya são termos sinônimos que denotam a Suprema consciência de Śiva] posicionando Ichhā Śakti como a principal Śakti, projetando o universo (do mais sutil) até objetos grosseiros, formando um grande lago. É assim chamada, porque põe em movimento todo o grupo do khecarī cakra (1) [Khecarī, gocari, dikcari e bhucari] e outras correntes...
Por estar mentalmente unido a ela (anusandhanat), ié. por estar internamente ciente da identidade incessante com ela, há a experiência do mantra da suprema consciência do Eu, que é a fonte geradora de todos os outros mantras e que se expande na forma de um multidão de palavras a serem descritas na seqüência. Essa experiência brilha como uma forma do próprio eu.
Portanto o Malinivijaya Tantra começa com: "Ela é a Śakti do criador do mundo e diz-se estar em constante e íntima união com Ele, e se torna, Ó deusa, Icchā (a vontade) daquele senhor desejoso de criar" (III, 5)
        E depois de mostrar que esta Śakti aparece como o universo inteiro na forma de Mātṛikā e Malini (2) com uma variedade de cinquenta letras com Ichhā Śakti (Divina Força de Vontade) tomando a parte principal, descreve o surgimento do mantra da consciência do Self através daquela Śakti (tata eva). Assim, a suprema Śakti é o grande lago. Certamente unindo sua mente a ela, o yogin tem a experiência do poder do mantra cuja natureza é Mātṛikā e Malini.
Notas
        1. Khecarī cakra e outras correntes - O grupo de correntes de poder aqui referidas são - khecarī , gocari, dikcari e bhucari. Khecarī está conectado com o pramata, o experiente; gocari está conectado com seu antahkarana ou com o aparato psíquico interno; dikcari está conectado com o bahiskarana, ou seja, os sentidos externos; O bhucari está conectado com os bhavas, os existentes ou os objetos externos. Os śakti cakras indicam os processos de reificação da consciência universal. Por Khecarī Cakra, a pessoa é reduzida da posição de uma consciência onisciente para a de um experiente limitado; por gocari cakra, ele se torna dotado de um aparato psíquico interno; por dikcari cakra, ele é dotado de sentidos externos; por bhucarl cakra, confina-se a bhavas ou objetos externos.
Khecarī é aquele que se move em kha ou akasa. Kha ou akasa é aqui um símbolo da consciência. Esta Śakti é chamada Khecarī, porque sua esfera é kha ou consciência. Gocari é assim chamado, porque sua esfera é o aparato psíquico interno. A palavra sânscrita 'go' indica movimento. O antahkarana é a sede dos sentidos e os coloca em movimento; é o aparato dinâmico do Self por excelência. Por isso é dito que é a esfera de gocari. dikcari é a Śakti que se move no dik (espaço). Os sentidos externos estão relacionados com o espaço; por isso, dizem que são a esfera de dikcari. A palavra bhu em bhucari significa existência. Portanto, os objetos existentes são a esfera do bhucari Śakti.
        2. Mātṛikā-Malini: Mātṛikā expressa as cinquenta letras do alfabeto sânscrito na ordem regular. Mātṛikā significa a mãe desconhecida, ou seja, a mãe cujo mistério não é realizado. A etimologia de Malini é "malate visvam antah dhatte", ié. Malini é quem detém o universo dentro de si. Malini indica as cinquenta letras do alfabeto do sânscrito em uma ordem irregular como dada abaixo:

न ऋ ॠ ऌ ॡ थ च ध ई ण उ ऊ ब क ख ग घ ङ इ अ व भ य ड ढ ठ झ ञ ज र ट प छ ल आ स
na ṛ ṝ ḷ ḹ tha ca dha ī ṇa u ū ba kha kha ga gha ṅa i a va bha ya ḍa dha ṭha jha ña ja ra ṭa pa cha la ā sa

अः ह ष क्ष म श अं त ए ऐ ओ औ द फ
aḥ ha ṣa kṣa ma śa aṁ ta e ai o au da pha

२- शाक्तोपाय [śāktopāya] Segundo despertar [Método da śākti]

1- चित्तं मन्त्रः ॥ १॥ [cittaṃ mantraḥ] ॥ 1॥
चित्तम् [cittam] citta significa, aqui, aquilo através do qual a suprema realidade é conhecida* मन्त्रः [mantraḥ] uma fórmula que consiste em uma palavra ou um conjunto de palavras dirigidas a uma divindade. Nesse contexto, mantra significa a consciência mental pela qual a pessoa sente sua identidade com a Realidade mais elevada, consagrada em um mantra, e assim se salva de um senso de separação e diferença*
Pela integração da própria consciência com a Realidade Mais Elevada consagrada em um mantra e, assim, tornando-se idêntica a essa Realidade, a própria mente [citta] se torna mantra.
        Kṣemarāja: Citta é aquilo que através do qual a suprema verdade é conhecida e reflete a Suprema Realidade. Em outras palavras, é a consciência que reflete sobre prāsāda (prāsāda é o nome técnico do mantra sauḥ), pranava e outros mantras que constituem a característica essencial da perfeita Śakti (luz da consciência).
        Aquilo pelo qual se delibera secretamente, ou seja, medita-se interiormente como sendo não-diferente do Senhor Supremo, é Mantra. Assim, o próprio citta é mantra. A interpretação etimológica do mantra aponta para a sua característica de manana (pensamento, reflexão), ié. reflexão sobre a mais alta luz da consciência do Eu (Self) e a outra característica é trana, ou seja, proteção, libertando do saṃsāra causado pelo conhecimento limitado. A mente do devoto intensamente concentrada na consciência da divindade associada ao mantra adquire identidade com essa divindade e assim se torna esse próprio mantra. É essa própria mente que é mantra, não um mero amontoado de várias letras.
        No Tantrasadbhava está escrito: "Aquela que é considerada a imperecível Śakti (Saktira-vyaya) é a alma de todos os mantras. Ó justo, sem ela, (Śakti), eles (os mantras) são inúteis como nuvens outonais ".
        No Srikanthi-Samhita, foi citado: "Se o praticante do mantra é diferente do mantra, então seu mantra nunca será bem-sucedido. O conhecimento (da consciência divina) é a raiz de tudo isso. Sem ele, um mantra nunca será bem-sucedido".

2- प्रयत्नः साधकः ॥ २॥ [prayatnaḥ sādhakaḥ] ॥ 2॥
प्रयत्नः [prayatnaḥ] esforço contínuo* साधकः [sādhakaḥ] realização, eficaz para a realização *
É pelo esforço contínuo que a realização é conquistada.
Bhaskara: Admirável é o esforço (exercido) para penetrar na natureza da mente. É a função (vṛtti) da vitalidade, já mencionada, e é (gerada) pela meditação repetida (nibhālana). Diz-se que é o principal meio para atingir o objetivo. O próprio Śiva descreveu-o no Trikasāra (Essência do Trika) (onde Ele diz): -- "O mantra é a natureza inerente (svasvabhāva) do poder da consciência, pois ao concentrar (manana) nele constantemente o yogin fica bem estabelecido na Consciência de Śiva. É em virtude disso que os yogins que aplicam suas mentes no Yoga conhecem (a verdadeira natureza) da realidade suprema (paramārtha)".
        Esse (esforço) é reconhecido como a maior ajuda possível para atingir o objetivo. Anunciado pela cessação da consciência diversificada que o sujeito, (obtém) ao retirar (a mente) repetidamente de sua atividade externa, (este esforço) é o fluxo de uma concentração uni-direcionada (pratyayaikatānatā) centrada na identidade (tādātmya) entre o Self na forma do objeto da meditação e a natureza essencial do mantra como descrito acima.
        Kṣemarāja explica que o esforço, neste contexto, significa a força espontânea da percepção que o yogin aplica para capturar o momento inicial em que ele pretende contemplar o Mantra. O desdobramento inicial de seu pensamento, carregado com o poder do Mantra, é o ponto em que ele pode alcançar a unidade com a divindade que ele simboliza, como o versículo 31 das 'Estancias' ensina. 
        Para fazer isso, ele deve tentar pegar esse momento fugaz em um único e rápido movimento de consciência. Para ilustrar este ponto, Kṣemarāja cita a Essência dos Tantras (Śrītantrasadbhāva):
"Ó querido, assim como uma ave de rapina, vislumbrando no céu um pedaço de carne (mergulha sobre ele), rapidamente o captura com sua velocidade natural, assim o melhor dos iogues capta a luz da consciência (mano bindu). Assim como uma flecha montada em um arco e puxada com grande força voa para frente, assim, amado, o Bindu voa para a frente pela força da consciência (uccāreṇa)".

3- विद्याशरीरसत्ता मन्त्ररहस्यम् ॥ ३॥ [vidyāśarīrasattā mantrarahasyam] ॥ 3॥
सत्ता [sattā] o ser luminoso da perfeita consciência do Eu* शरीर [śarīra] svarupa ou essência * विद्या [vidyā] do conhecimento do mais elevado não-dualismo * रहस्यम् [rahasyam] segredo * मन्त्र [mantra] mantra *
O ser luminoso cuja essência consiste no conhecimento da unidade é o segredo do mantra.
Kṣemarāja: Vidya significa conhecimento do não-dualismo mais elevado, 'Śarīra' significa svarupa, ou seja, forma própria, essência. Vidyā-śarīra significa aquela multidão de palavras cuja essência consiste em vidyā, isto é, o conhecimento do mais elevado não-dualismo: Sattā significa ser, ou seja, o ser luminoso da perfeita consciência do Eu que não é diferente de todo o cosmo. Vidyā-śarīra-sattā significa, portanto, o ser luminoso da perfeita consciência do Eu, que não é diferente de todo o cosmo e que é inerente à multidão de palavras cuja essência consiste no conhecimento do mais elevado não-dualismo. Mantrarahasyam significa o segredo do mantra.
Todo o sutra, portanto, significa: "O ser luminoso da perfeita consciência do Eu, que não é diferente de todo o cosmos e que é inerente à multidão de palavras cuja essência consiste no conhecimento do mais elevado não-dualismo, é o segredo. de mantra ".
Como foi mencionado no Tantrasadbhāva: "Ó querido, todos os mantras consistem em letras. As letras são uma forma de śakti. Essa śakti deve ser conhecida como mātṛikā. Mātṛikā deve ser conhecida como a própria forma de Śiva."
Bhaskhara: Por conhecimento queremos dizer o desdobramento da própria luz imanente; é a súbita expansão (unmeṣa) da vibração de energia (sāhasa) que ocorre dentro do Princípio Puro (Paramaśiva) penetrando (āveśa) (e se tornando um com) a consciência pura (cinmātratā). Este é o Ser (sattā) do corpo daquele que recita o Mantra e o supremo segredo.

4- गर्भे चित्तविकासोऽविशिष्टविद्यास्वप्नः ॥ ४॥ [garbhe cittavikāso'viśiṣṭavidyāsvapnaḥ] ॥ 4॥
गर्भे [garbhe] ignorância primordial, poderes máyicos (de māyā)* चित्त [citta] mental* विकासः [vikāsaḥ] satisfação, gratificação * अविशिष्ट [aviśiṣṭa] inferior* विद्या [vidyā] conhecimento* स्वप्नः [svapnaḥ] sonho*
A satisfação mental (obtida) através de poderes limitados (máyicos) é apenas um sonho baseado em conhecimento inferior.
        Kṣemarāja: Garbhaḥ significa ignorância primordial, mahāmāyā. Em que, ié. em poderes limitados máyicos. Cittasya vikāsaḥ significa satisfação nos poderes fenomenais limitados. Este é apenas um tipo comum de conhecimento, ou seja, conhecimento inferior, impuro e limitado. Isso é mero sonho, ou seja, confusão cheia de estranhas fantasias baseadas em um senso de diferença. No Pātañjala yogasūtras também, foi dito: "Eles (isto é, os poderes sobrenaturais) são obstáculos ao Samādhi (absorção contemplativa); mas realizações no estado comum de consciência no qual a mente flutua."
        Este ponto também foi descrito no seguinte verso em Spandakarika: "A partir disto (ou seja, unmesa) aparece em pouco tempo Bindu, ié. luz (entre as sobrancelhas); Anahata Nāda, ié. sons internos de vários tipos; rūpa, diferentes tipos de formas, mesmo na escuridão; rasa, sabor agradável no boca, mesmo na ausência de qualquer coisa comestível. Para o yogin cujo senso de identificação com o corpo ainda não desapareceu, essas (experiências super-normais) agem de imediato apenas como obstáculos (em seu progresso do Yoga) (lll, 10).

5- विद्यासमुत्थाने स्वाभाविके खेचरी शिवावस्था ॥ ५॥
[vidyāsamutthāne svābhāvike khecarī śivāvasthā] ॥ 5॥
स्वाभाविके [svābhāvike] [Durante] o espontâneo* विद्या-समुत्थाने [vidyā-samutthāne] surgimento do conhecimento supremo* खेचरी [khecarī] [ocorre um] movimento na vasta extensão ilimitada de consciência* शिवावस्था [śivāvasthā] [que se chama] estado de Śiva*
Durante o espontâneo surgimento do conhecimento supremo, ocorre um movimento na vasta extensão ilimitada de consciência (khecarī) que se chama estado de Shiva.
        Kṣemarāja: Sobre o surgimento do conhecimento supremo do não-dualismo, isto é, sobre o surgimento espontâneo de Vidyā, que ocorre apenas pelo desejo do Senhor Supremo que rejeita todo poder limitado como inútil, Khecarī mudra (movimento na vasta e ilimitada extensão da consciência) se manifesta.
        Que espécie de Khecarī ? [Ele significa literalmente aquilo que se move no céu ou no espaço vazio, Kha ou espaço vazio é um símbolo da consciência. Um dos significados de Khecara é Siva. Khecarī mudra, portanto, significa um mudra pertencente a Śiva ou Śivāvasthā como o sutra acima diz]. É um estado de Śiva que, como possuidor desse estado, é o senhor da consciência. É o prazer do Self que vem de dentro. Este Khecarī não é do tipo usual, que é apenas uma disposição de certas partes do corpo em uma forma particular, como descrito no seguinte aforismo: "Um yogin deve assumir padmāsana, manter-se ereto como um tronco, e tendo fixado sua mente no umbigo, deve levar a mente até khatraya (as três śaktis situadas no espaço da cabeça), mantendo a mente nesse estado, deve movê-la para a frente rapidamente por meio do (previamente exposto acima) khatraya. Com essa postura psico-física o grande yogin adquire o poder supra-normal de se mover (voar) no céu. 
        Assim, Khecarī, conforme definição do Tantrasadbhava, é a forma mais elevada de consciência. De acordo com esta Yoga, é apenas o surgimento da natureza essencial da consciência divina, reduzindo a nada todos os distúrbios causados ​​por māyā que tem a natureza de criar diferença. É só isso que constitui a potência dos mantras e a potência do mudra.
       "Este sūtra diz que a potência do mantra ou do mudra consiste em capacitar o aspirante a adquirir Khecarī, que é a consciência de Siva. Isso só é possível quando se percebe o segredo do mantra que é a Suprema consciência de Śiva, a consciência do Eu que é também a consciência do mundo."

6- गुरुरुपायः ॥ ६॥ [gururupāyaḥ] ॥ 6॥
गुरुः [guruḥ] guru* उपायः [upāyaḥ] meio*
Somente aquele que atingiu a auto-realização é o Guru (Mestre).
        Bhaskara: Aqui 'Mestre' é o poder (da consciência) considerado o supremo meio de realização porque é uma dádiva de Śiva (śāmbhavīśakti)...é o poder da graça, a Deusa Suprema que conduz (o yogin) ao plano (do Ser) que ele busca realizar, uma vez que tenha atingido o poder do Mantra, etc. Através dela, os devotos desfrutam a serenidade no absoluto, o plano além da mente (Paramasiva)... Na busca pela auto-realização, podemos ser levados de um professor para outro. Se nos beneficiarmos de cada encontro e compreendermos as instruções de cada Mestre, não há nada de errado nisso. De fato, isso é o que Kallata e o próprio Abhinava fizeram. Pois como os Tantras declaram: Assim como uma abelha, desejosa de néctar, vai de flor em flor, assim um discípulo, desejoso de conhecimento, vai de professor a professor. Se ele tem um mestre desprovido de poder, como ele pode alcançar conhecimento e liberação? Ó Deusa, como pode uma árvore sem raízes produzir flores ou frutos? O verdadeiro Mestre (Sadguru) só pode ser aquele que alcançou a liberdade completa através da identificação com Śiva. Tal homem é o próprio Śiva em forma humana, assim é nele que o discípulo vê o objetivo de seu esforço...
           No final, o discípulo descobre que o Mestre não é outro senão ele mesmo e que ele, como discípulo, é a consciência reflexiva da consciência inquiridora (prāṭṣṛ saṃvit) da Luz que constantemente responde com revelações cada vez mais profundas de sua própria natureza. Abhinava explica: Nossa própria natureza é da natureza de todas as coisas e conhece a si mesma. É a natureza própria da pessoa (em si mesma), que através da pergunta e da resposta, é contemplada como "egoidade", que dá origem a um sentimento de admiração (assumindo a) forma de questionador e replicador.
        Um único Senhor assume a forma do Mestre e de discípulo. O diálogo entre eles é sempre mantido dentro da consciência. É o diálogo interior que o Eu tem com sua própria natureza, iluminando-se por si mesmo: A liberdade indivisa da consciência brilha no plano das distinções. Dele emana o estado de professor e ensino. É a própria natureza de alguém que é o Senhor e o professor, e (ainda) se pensa que ele é outro (além de si mesmo) - pensa-se que as palavras que o Self de um indivíduo pronuncia são as do outro. Aquilo que deve ser entendido assim como aquilo pelo qual é entendido, tudo é da natureza do Self (embora) acredita-se que sejam diferentes. No mais alto nível de prática, o Mestre infunde essa consciência diretamente no discípulo e ele se eleva em um instante ao reconhecimento de que ele e o Mestre são um só. Nos níveis mais baixos da prática, por outro lado, o sentido da diferença é quase total. Assim, o Mestre e o discípulo, separados uns dos outros pelos constituintes objetivos de seu ser, seu relacionamento assume a forma daquele entre um sábio iluminado (ṛṣi) e outro ser humano comum.

7- मातृकाचक्रसम्बोधः ॥ ७॥ [mātṛkācakrasambodhaḥ] ॥ 7॥
मातृकाचक्र [mātṛkācakra] grupo de letras* सम्बोधः [sambodhaḥ] iluminação*
(Pela graça do guru) vem uma 'luz' sobre o grupo de letras (mātṛkācakra).
Kṣemarāja: Revela o segredo do mātṛikācakra. Na mātṛikā, existem três mundos, o mundo subjetivo, o mundo cognitivo e o mundo objetivo. Estamos situados no mundo objetivo. Estando no mundo objetivo, não estamos conscientes do mundo cognitivo ou do mundo subjetivo. A questão é: como podemos unir o mundo objetivo com o mundo subjetivo? O mundo subjetivo é encontrado em anuttara 'a' e o mundo objetivo é encontrado em anāhata, 'ha'. Como, portanto, esses dois mundos muito diferentes podem ser unidos? Esta questão é respondida por este precioso segredo do mātṛikācakra, que explica como se tornar bem sucedido em unir o objetivo e o mundo subjetivo. (A passagem que se segue é um desdobramento do mātṛikā-cakra, descrevendo as Śaktis que correspondem ás letras do alfabeto sânscrito, segundo o Parātriṁśaka). Mātṛikācakra se relaciona com a teoria do alfabeto sânscrito da letra “a” para a letra “kṣa”. Existem cinquenta letras. As cinquenta letras representam a existência de todo o universo. O universo é composto de trinta e seis tattvas (elementos) e os trinta e seis elementos são representados pelas cinquenta letras. O universo começa a partir do tattva Śiva (o elemento Śiva), e termina com o tattva pṛithvī (o elemento terra).
1. 'a' (अ), é o primeiro raio do ahaṃvimarśa, consciência do Eu; anuttara, (supremo). Ela é jñāna-śakti (Kula-Svarūpā).
2. 'ā' (आ), ānanda rupa, da natureza da bem-aventurança.
3,4. ' i ' (इ), ' ī ' (ई). Ela primeiro ilumina os estados de desejo e regência, icchā e īśāna.
5,6. 'u' (उ), 'ū' (ऊ). Ela então exibe a ascensão, unmēṣa, do conhecimento e seu obscurecimento, ūnatā, devido ao desenvolvimento da cognição objetiva.
7,8. 'ṛ' (ऋ), 'l' (ऌ). Essas letras indicam as duas funções de icchā śakti, ou seja, a auto-iluminação e iluminação do mundo. Por isso, iluminando o mundo com sua própria luz, ela é imortal. Mas como as outras letras-semente, chamadas sandhyaksa (ou seja, e, ai, o, au), não podem ser produzidas simplesmente iluminando o mundo.
9, 'e' (ए). A letra-semente de três ângulos é produzida pela união de anuttara, ānanda e icchā.
10, 'o' (ओ). Produzido pela união de anuttara, ānanda e unmēṣa. Ela abrange a kriya-śakti.
11,12. 'ai' (ऐ), 'au' (औ). A letra-semente de seis ângulos e a letra-semente tridente. Pela união de duas letras-sementes já descritas.
Assim, estas são devidas à união das três śaktis, porque nelas kriya-śakti é predominante, permeada por jñāna-śakti e icchā-śakti.
13. 'ṅ' (ङ). Bindu, indica o conhecimento da unicidade do universo incluindo o mundo físico.
14. 'ḥ' (ः). Visarga, um bindu duplo, indica a manifestação interna e externa simultânea do universo.
Assim, os estados interiores (subjetivos) da consciência, o mundo (interno) flui do anuttara. O universo interno é o das vogais; o exterior, é o das consoantes.
Na criação exterior, ela desenvolve todo o universo, terminando com purusa (26 tattvas) correspondendo às 25 letras de 'ka' a 'ma'; ka-series da śakti de 'a', séries de 'i', e assim por diante de 'u', 'ṛ', 'l'; cada śakti da vogal se torna uma quíntupla e produz as cinco śaktis inferiores das consoantes.
As próximas quatro letras, 'ya', 'ra', 'la', 'va', são chamadas de antastha no Śikṣā (fonética védica), porque estão no puruṣa, dentro do kañchuka, niyati, etc. Estes quatro (viz, niyati, kalā , rāga, vidyā) são chamados dhārana, nos Vedas, porque eles sustentam o universo, permanecendo no puruṣa, o conhecedor.
As quatro seguintes, 'śa', 'ṣa', 'sa', 'ha', são chamadas ūṣma porque se elevam (unmiṣita) quando a diferença é destruída e a identidade é percebida. A Śakti, então, se manifesta na forma dessas letras, das quais a última, 'ha', é a letra da imortalidade...O conhecimento do Mātṛkā-cakra faz com que alguém entre em sua própria natureza, que é uma afluência da bem-aventurança da consciência. As características de 'a' a 'ma' devem ser aprendidas com um Guru competente, que é bhairava, que é divino, e deve ser reverenciado como (Śiva).

8- शरीरं हविः ॥ ८॥ [śarīraṃ haviḥ] ॥ 8॥
शरीरम् [śarīram] corpo* हविः [haviḥ] oblação*
[A integração da consciência do Eu] no corpo torna-se uma oblação [a ser lançada no fogo da suprema consciência].
        Kṣemarāja: "A consciência do Eu nestes três corpos é chamada śarīra. Para um yogin, todos esses três corpos, inclusive a consciência do Eu, tornam-se oferendas (haviḥ) no fogo da suprema consciência. Por essas ofertas, todos esses três estados de consciência se tornam um com a suprema consciência. Quando este grande yogin oferece esses três fluxos de consciência, fazendo com que eles sejam digeridos no fogo da suprema consciência, somente a suprema consciência e nenhuma outra consciência permanece. Este yogin encontra a consciência superior em todo lugar, no corpo grosseiro, no corpo sutil e no corpo mais sutil. Assim, ele retira a consciência desses três corpos e assume a suprema consciência.
        Assim que a consciência (pramātṛi bhāva) é estabelecida no corpo, o experienciador percebe: “Eu sou esse corpo grosseiro no estado de vigília, sou esse corpo sutil no estado de sonho e sou esse corpo mais sutil no estado de sono profundo. Todas as pessoas do mundo assumem (abhiṣikta) a sua consciência do Eu projetando sua percepção do Eu nestes três corpos. Quando a consciência é estabelecida nesses três corpos, eles são chamados os três véus, os três revestimentos. Você deve remover a consciência do Eu desses três estados corporais, grosseiro, sutil e mais sutil, porque quando a consciência é estabelecida nesses corpos, você percebe que 'é' esses corpos..."

9- ज्ञानमन्नम् ॥ ९॥ [jñānamannam] ॥ 9॥
ज्ञानम् [jñānam] conhecimento (empírico) é a causa da escravidão* अन्नम् [annam] alimento a ser 'devorado' [ié. perceber a unidade]*
O conhecimento (empírico) é seu alimento; (ou) o conhecimento (transcendente) de sua própria natureza é seu alimento.
        Kṣemarāja: O conhecimento (empírico) descrito como escravidão (l- 2) é o alimento dos yogins, que é comido, engolido, como já foi discutido em (l- 6)? “Ele então engole tudo isso, morte, tempo, a totalidade dos kalās, todos os fenômenos, todas as cognições, todas as diferenças entre os ātmās.” (Outra interpretação). Ou, o conhecimento (transcendente) que consiste na meditação sobre a própria natureza é seu alimento, sendo a causa da paz do Self porque produz plena satisfação. No Vijnana-bhairava, diz-se: “O que surge dia após dia, quando fixado em um estágio (yukti), é a consciência da plenitude, a felicidade devida a essa plenitude.” “Yukti” é aqui o conhecimento de 112 estágios de meditação. É explicado no Karika (44): “Ele estará em toda parte iluminado”. No caso do homem que nem sempre está em equilíbrio, e embora sábio, orgulha-se de ter alcançado o estágio de equilíbrio.

10- विद्यासंहारे तदुत्थस्वप्नदर्शनम् ॥ १०॥ [vidyāsaṃhāre tadutthasvapnadarśanam] ॥ 10॥
संहरे [saṃhare] na submersão de * विद्या [vidyā] Suddha Vidya (conhecimento puro)* उत्थ [uttha] surgem* स्वप्न [svapna] sonho (construções mentais)* दर्शनम् [darśanam] aparecem* तत् [tat] dele*
Na submersão do Suddha Vidya (conhecimento puro), (há) a eclosão de todos os tipos de construções mentais que surgem dela (isto é, a submersão de Suddha Vidya).
Bhaskara: Interpreta este sutra de forma diferente. De acordo com Ksemaraja, Vidya, aqui, significa suddha vidya, mas de acordo com Bhaskara, vidya, aqui, significa conhecimento empírico, comum às pessoas do mundo. Assim, Bhaskara interpreta o sutra assim: "Quando o conhecimento empírico, comum às pessoas do mundo se dissolve (na realização do seu verdadeiro Self), então o conhecimento ilusório dos objetos do mundo é lembrado apenas como um sonho".
Kṣemarāja: Na destruição, isto é, na submersão do suddha vidya, que é conhecimento puro, todos os vestígios desse conhecimento são gradualmente destruídos e surgem daí visões (svapna), isto é, construções mentais ilusórias cheias de consciência de diferenciação (da dualidade).


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quinta-feira, 4 de abril de 2019

Shiva Sutras de Vasugupta / Terceiro Despertar [Método do Praticante (jīva)]

आणवोपाय [āṇavopāya] Terceiro Despertar [Método do Praticante (jīva)]

1- आत्मा चित्तम् ॥ १॥ [ātmā cittam] ॥ 1॥
आत्मा [ātmā] Self individual* चित्तम् [cittam] mente*
O Self individual é a mente (constituída por buddhi, ahaṃkāra e manas) .
        Kṣemarāja: Cittam (mente no sentido de antaḥkaraṇa) é aquilo que é tocado pelo desejo por objetos dos sentidos, consiste em buddhi (intelecto), ahaṃkāra (senso do eu, ego), e manas (mente comum). Está sempre envolvido na reflexão, apropriação, e construção de pensamentos sobre os objetos. Essas atividades são realizadas respectivamente por buddhi, ahaṃkāra e manas. Esse mesmo citta é ātmā ou anu (o eu empírico, limitado). Ātmā é derivada da raiz ātman relacionada ao alento e ao movimento, significa o self, o princípio da vida e do sentimento. Devido à ignorância primordial de sua natureza real que é Cit (pura consciência transcendente), move-se constantemente e passa por várias formas de existência, prendendo-se a sattva, rajas e tamas. É por isso que é conhecido como ātmā ou anu (ser limitado).
         "Ātmā definido, antes, como "A Consciência que é onisciente e onipotente (caitanyan) é - o Ser ou a verdadeira natureza da realidade, foi assim definido com a intenção de expor sua natureza inerente e essencial. Agora, entretanto, a definição está sendo dada principalmente do ponto de vista de sua aparência na limitação. Esta definição é adequada à sua condição de limitação (āṇava daśā). Portanto, não há inconsistência entre a definição anterior e a posterior. Cit ou consciência universal durante o curso da manifestação se reduz a citta que consiste de buddhi, manas e ahamkara. A citta fica condicionada por seu desejo pelo prazer dos objetos dos sentidos. O constituinte de buddhi é principalmente sattva. o de manas é rajas e o de ahaṃkāra é tamas. Usando buddhi, manas e aharhkara, ele se move (atati) de uma forma de existência para outra. Citta é anu ou ātmā, ou seja, o eu individual neste contexto. Portanto, āṇavopāya está envolvido com buddhi, manas e ahaṃkāra."

2- ज्ञानं बन्धः ॥ २॥ [jñānaṃ bandhaḥ] ॥ 2॥
ज्ञानम् [jñānam] conhecimento produzido por citta* बन्धः [bandhaḥ] escravidão*
O conhecimento gerado pela mente (do ser limitado) é uma fonte de escravidão.
        Kṣemarāja: Os processos mentais relacionados com buddhi e ahaṅkāra que são cheios de prazer, dor e ilusão e manifestação de diferenças (dualidades) pertinente aos modos acima são o que constituem o conhecimento (jñāna) do self empírico (aṇu). Esse conhecimento (limitado) é a fonte da escravidão. Sendo limitado por tal conhecimento, este self empírico (aṇu) fica confinado no (saṁsāra). O Tantrasadbhāva diz: "Preso a sattva, rajas e tamas e sabendo apenas o que os sentidos podem informar, o encarnado vagueia pela existência, movendo-se erraticamente."
        A mesma ideia foi repetida nos seguintes versos de Spandakarika: "Sendo ligado pelo Puryaṣṭaka (corpo sutil) que surge dos tanmātras e de citta, o self empírico experimenta como uma criatura submissa prazer e dor que resultam das ideias que se originam do puryaṣṭaka e então ele se torna sujeito à existência transmigratória por causa da existência desse puryaṣṭaka. Eu, portanto, explicarei claramente o que causa a dissolução da existência transmigratória de tal indivíduo ". (Ill, 17-18). O Spandakārikā propõe os meios para a anulação desta existência transmigratória (saṁsāra).

3- कलादिनां तत्त्वानामविवेको माया ॥ ३॥ [kalādināṃ tattvānāmaviveko māyā] ॥ 3॥
कलादिनां [kalādinām] de kalā, etc * तत्त्वानाम् [tattvānām] princípios constituintes* अविवेकः [avivekaḥ] não discriminação * माया [māyā] māyā*
O yogin que não é capaz de possuir conhecimento indiferenciado (não dual) dos elementos, de kalā a pṛithvī (terra) que são a expansão da energia da ilusão (māyā śakti), apenas vive nesses elementos. 
        Kṣemarāja: Māyā é não discriminação (aviveka), isto é, considera idênticos aqueles que são considerados separados. "Aqueles" referem-se aos trinta e um elementos (tattvas) que começam de māyā tattva e terminam em pṛithvī tattva (terra) e são os trinta e um elementos existentes no mundo da ilusão. [No mundo da iluminação, existem cinco tattvas: śuddhavidyā, īśvara, sadāśiva, śakti e Śiva. Esses cinco elementos são puros. Os trinta e um elementos que constituem o saṁsāra, sendo cheios de ignorância, são impuros]. Saṁsāra começa com o elemento kalā e termina com a terra, sendo organizado na forma de Kañcukas (revestimentos de Māyā) e corpos sutis e densos. Em outras palavras, Māyā é apenas uma extensão da ignorância primordial da Realidade. Então, descendo da sua própria natureza real, primeiro há māyā e os cinco kañcukas, que são seis coberturas que vedam sua verdadeira natureza. Então há puryaṣṭaka, que é composto dos cinco tanmātras (elementos sutis), manas, buddhi e ahaṁkāra. Depois, há os cinco órgãos do conhecimento, os cinco órgãos da ação e os cinco elementos grosseiros.
        O Tantrasadbhāva diz: "A consciência do indivíduo empírico é reduzida à eficácia limitada por kalā (limitações do ser), os objetos dos sentidos são exibidos a ele através de vidya (conhecimento limitado); ele é afetado emocionalmente por raga (desejo por coisas particulares); ele é dotado de órgãos de percepção, dos sentidos e dos órgãos de ação. Portanto, surge a escravidão devido a Māyā. Esta escravidão é terrível para ele (daratmakah).
        Em resumo, os guṇas, (sattva, rajas e tamas) dependem dela (māyā) e também as atividades corretas e más dependem dela. Imbuído deles, ele está o sujeito à escravidão e permanece ligado a eles. "Também no Spandakārikā, a mesma ideia foi expressa de outra maneira no verso seguinte: "Esses (essas emanações particulares do Spanda), sempre com a intenção de esconder a verdadeira natureza do experiente, empurram as pessoas de mente não iluminada (não desperta) para o terrível oceano da existência mundana, que é difícil de atravessar." (l, 20)

4- शरीरं संहारः कलानाम् ॥ ४॥ [śarīraṃ saṃhāraḥ kalānām] ॥ 4॥
शरीरम् [śarīram] no corpo (físico, sutil e causal)* संहारः [saṃhāraḥ] dissolução* कलानाम् [kalānām] das partes*
A dissolução das partes dos tattvas no corpo (físico, sutil e causal) deve ser realizada por Bhāvanā (contemplação).
        Kṣemarāja: Por Śarīra (corpo) entende-se o corpo denso composto pelos cinco elementos grosseiros, o corpo sutil (consistindo dos cinco tanmātras, manas, buddhi e ahaṃkāra) e o corpo mais alto ou causal que consiste em energia vital e mente, sutis, até samanā. Neste corpo (isto é, no corpo físico, sutil e causal) a dissolução tem que ser contemplada (dhyatavyah) de todas as partes constitutivas (kalās) do tattva terra até Śiva nas causas precedentes por Bhāvanā ou pelo processo de pensar na combustão etc. (Deve ser acrescentado como a parte restante da sutra).
Como foi dito no Vijñānabhairava: "Deve-se contemplar sucessivamente por meio de Bhuvanādhvā etc., desde o grosseiro até o sutil, e do sutil até o causal, até que finalmente a mente esteja completamente dissolvida." (Verso 56)
Além disso: "Deve-se pensar que o corpo do yogin está sendo queimado por Kālāgni que surge da ponta do pé direito. Finalmente, há a percepção da luz de Śānta, ou seja, na qual não há o menor traço de diferença (dualidade)". (Verso 52)
Dessa maneira, há a descrição da dissolução em todos os āgamas. Portanto: "O samāveśaḥ (completa absorção na própria natureza essencial) que ocorre por meio de Uccāra, Karaṇa, Dhyāna, Varṇa e Sthānakalpanā é conhecido como āṇava samāveśaḥ". (Mālinīvijaya II, 21).

5- नाडीसंहार-भूतजय-भूतकैवल्य-भूतपृथक्त्वानि ॥ ५॥ [nāḍīsaṃhāra-bhūtajaya-bhūtakaivalya-bhūtapṛthaktvāni] ॥ 5॥
नाडीसंहार [nāḍīsaṃhāra] dissolução do fluxo de prana nos canais sutis* भूतजय [bhūtajaya] o controle sobre os elementos* भूतकैवल्य [bhūtakaivalya] a retirada da mente a partir dos elementos* भूतपृथक्त्वानि [bhūtapṛthaktvāni] separação dos elementos*
(O Yogin deve produzir) a dissolução (da energia vital) nos canais sutis, a conquista dos elementos brutos, o afastamento (de sua mente) dos elementos brutos (e) a separação dos elementos brutos (por meio de Bhāvanā).
        Kṣemarāja: Esses métodos devem ser realizados pelo yogin através do Bhāvanā, contemplação (isso deve ser adicionado ao sutra para garantir seu sentido). O yogin deve dissolver o saṁhāra (energia vital) que flui nos canais sutis e que transportam prāṇa, apāna, etc., no suṣumnā, canal do meio, cuja natureza é o fogo de udāna por meio do modo prāṇa - apāna, ié. interrompendo seu fluxo externo e interno reunindo-os no canal do meio.
        O Svacchandatantra diz: "Deve-se inspirar pela esquerda (narina) e expirar pela direita." Isso traz a limpeza dos nāḍīs (canais) e do nāḍī médio, que é o caminho para a liberação. Inspirando, expirando e retendo a respiração, diz-se que há três tipos de prāṇāyāma; todos são comuns e externos. Existem também três tipos de prāṇāyāma internos. Para o interno é necessário executar a expiração (recaka), a inspiração (pūraka) e a retenção (kumbhaka) sem tremor. Assim, os três prāṇāyāmas internos devem ser realizados ". (VII, Verso 294-296).
        A conquista dos elementos como terra, etc. significa controle sobre eles por meio de dhāraṇā. Como foi dito no mesmo livro: "Concentração no elemento ar, no dedo do pé esquerdo; no elemento fogo, no meio do umbigo; no elemento terra, na garganta; na água, na úvula, no ākāśa (éter) no topo da cabeça. Diz-se que essas concentrações produzem todos os poderes sobrenaturais "(VII 299-300) 
Bhūta-kaivalya significa pratyāhara ou a retirada da mente dos elementos. Como já foi dito no mesmo livro: "A transição do prāṇa do coração para o umbigo, e mantendo-o ali, a retirada da mente dos objetos dos sentidos e sua transição para o umbigo (pelo modo do pratyāhara). Este é o quarto prāṇāyāma "conhecido como o calmo ou tranquilo" (supraśāntaḥ) "(VII, 297). O significado do verso é que deve haver transição do prāṇa do coração para o umbigo, e retirada da mente dos objetos e sua transição também para o umbigo.
        Bhūtapṛthaktva significa separar a mente dos elementos e, assim, assumir a natureza do Self puro e livre. Como foi dito no próprio Svacchandatantra: "Ó deusa tendo perfurado todos os nós, como o coração, a garganta, etc. até o Unmanā pelos meios acima mencionados, e abandonando-os completamente, pode-se alcançar o estado da mais alta liberdade de espírito, isto é, estado Bhairava "(VII, 327) Bhuta-sandhana-bhuta-prhaktva-visva-samghattah que foi mencionado antes (em I, 20) acontece sem esforço no Śāmbhavopāya. Sob Āṇavopāya, tem que ser adquirido com esforço. Essa é a diferença.

6- मोहावरणात्सिद्धिः ॥ ६॥ [mohāvaraṇātsiddhiḥ] ॥ 6॥
मोहावरणात् [mohāvaraṇāt] um véu devido à ignorância* सिद्धिः [siddhiḥ] poder super-natural*
O poder super-natural é devido a um véu gerado pela ignorância.
        Kṣemarāja: Aquilo que ilude é moha; em outras palavras, é māyā. Em razão do véu gerado por esse moha, manifesta-se o poder sobre natural obtido por meio de dhāraṇā que aparece na forma de desfruto de diversas realidades (tattvas). Contudo, esse poder não denota a manifestação do mais alto tattva (Śiva). O Lakṣmīkaulārṇava diz: "O divino Senhor que é auto-existente, que não possui impressões residuais das vidas passadas, mas sendo iludido (por Sua própria māyāśakti) não percebe que Śiva está além de todas as construções mentais; que é a suprema morada (de todos); que não teve início e não terá fim e que está presente para todos os seres (como o seu Self mais profundo)".
        O que segue se aplica às pessoas cuja ilusão se desfez: "Deve-se recorrer à energia vital prāṇa (udāna) que está no meio entre as passagens do prāṇa e do apāna, e recorrer ao poder do conhecimento (jñāna-śakti), estabelecendo-se lá (ié. em jjñāna-śakti). Como a mais alta pulsação da consciência (Spanda ou vibração) que está além do sutil prāṇāyāma é obtida depois de abandonar o estado bruto da energia vital (prāṇāyāma bruto consistindo de puraka, recaka, kumbhaka), e também o prāṇāyāma sutil (que é interno, com udāna ascendendo dentro do susumna), este Supremo Spanda (Vibração) não mais permite a queda do aspirante.
        Deixando de lado até sons sutis sobrenaturais, etc., que são modos de sensação causados ​​pelos guṇas na Prakṛti e são experienciados pela mente, deve-se entrar no estado mais elevado com plena consciência do Self (sem qualquer construção mental). Diz-se que isto é pratyāhāra que corta o laço da existência transmigratória.
       A mais alta Realidade é onipresente e não pode ser meditada em qualquer forma objetiva. Transcendendo os atributos da mente, deve-se meditar na suprema consciência como a Luz experimentada em si mesmo como o pramata ou conhecedor. Isto é o que os sábios conhecem como dhyāna ou meditação. 
        Quando o supremo Self é sempre mantido na consciência pelo aspirante, isso é definido como o dhāraṇā que remove o nó da existência transmigratória. 
Neste mundo, seja em si mesmo ou em todas criaturas, se alguém mantém a ideia de semelhança, ou seja, se alguém experimenta Śiva em tudo, como o Self, é conhecido como o mais elevado Samādhi ou perfeita concentração. '' (VIII, 11-18) 
        Portanto, o Mṛtyujit (Netratantra) diz, há samāveśaḥ (absorção) na mais alta realidade, também por dhāraṇā, etc., em um sentido superior, não meramente a manifestação de poderes super-normais limitados.
        "O quinto sutra diz que prāṇāyāma, dhāraṇā, pratyāhāra e samādhi são todos āṇavopāya, todos kriya-yoga, práticas disciplinares que o aṇu ou o indivíduo (jīva) podem adotar e, por meio dessas práticas disciplinares, certos poderes sobrenaturais são obtidos. O sexto sutra adverte que o indivíduo não deve visar a obtenção de tais poderes limitados e inferiores. Seu objetivo deve ser a auto-realização genuína que é, Realização de Siva. Em seguida, aponta que āsana, prāṇāyāma, pratyāhāra, dhāraṇā, dhyāna e samādhi, que são as técnicas usuais de yoga, devem ser tomadas em um sentido superior e não simplesmente como práticas mecânicas, disciplinares que estão no nível de āṇavopāya. Os níveis mais elevados dessas práticas pertencem a śāktopāya e o sutra sugere que āṇavopāya deveria levar a śāktopāya".


7- मोहजयात् अनन्ताभोगात् सहजविद्याजयः॥ ७॥ 
[mohajayāt anantābhogāt sahajavidyājayaḥ] ॥ 7॥
मोह [moha] ilusório, māyā* जयात् [jayāt] conquista* अनन्त [ananta] ilimitado, infinito* आभोगात् [ābhogāt] extensão* अनन्ताभोगात् [anantābhogāt] cuja extensão é ilimitada, ié. que pervade uma extensão ilimitada* सहजविद्या [sahajavidyā] conhecimento natural, inerente, imanente* जयः [jayaḥ] domínio*
Pela conquista da ilusória māyā, em sua extensão infinita, há o domínio do conhecimento natural e inerente da Realidade.
        Kṣemarāja: Pelar 'conquista' significa subjugação de moha (ilusão), isto é, de māyā, que é um vínculo que se estende até samanā, um vínculo de natureza da ignorância primordial. Por qual tipo de conquista? Através desse tipo de conquista que é ilimitada, ou seja, que se estende até à anulação dos vestígios residuais da ignorância. Por tal conquista há o domínio, ou seja, aquisição do conhecimento inerente definido no verso "Porque ela traz a investigação da característica sem começo de Śiva etc. ié. a Sua absoluta Liberdade ou Svātantrya".
        O domínio de sahaja vidyā ou conhecimento inerente tem sido falado no contexto de āṇavopāya porque até āṇavopāya deve terminar no Śāktopāya. Então, o Svacchanda Tantra, começa com "Ó abençoado, há uma rede infinita de laços alongando-se para samanā" e termina com os seguintes versos: "Abandonando a identificação do Self com vínculos existentes até Samanā vê a natureza essencial de si mesmo como consciência pura. Isso, no entanto, apenas equivale a inerência do Self (atmavyapti). A inerência em Śiva (Śiva-vyapti) é diferente disso, ié. de Ātmavyāpti - lit. inerência no Ser. Quando objetos desejados (arthas), como a onisciência, etc., são contemplados dentro de si mesmo, como algo que permeia tudo, há inerência em Śiva. Isso se torna um meio eficaz para o desenvolvimento de caitanya ou consciência como Svatantrya (liberdade absoluta)"(IV, 434-435).
        Como foi dito no próprio Svacchanda: "Portanto, abandonando a consciência meramente pura ou simplesmente inerente ao Ser (ātma-vyāpti) (como a meta), devemos nos apegar ao vidyā tattva. Esse vidyā tattva deve ser conhecido como unmanā. Manas é apenas uma noção ou desejo. Esse tipo de conhecimento é apenas gradual, avançando passo a passo, por graus, enquanto unmanā é conhecimento de uma só vez e perene. Porque não há outro vidyā (conhecimento) como este, portanto é o mais alto vidya. Por este conhecimento, alcança-se as qualidades mais altas como onisciência, etc. simultaneamente. É chamado Vidyā, porque traz a investigação da característica sem começo de Śiva, Svātantrya-Śakti, porque traz o conhecimento do Self Superior e porque dissipa tudo o que não é o Self Superior. Estabelecido naquele (unmanā), pode-se manifestar a mais alta luz (luz da consciência - cit-jyoti) a mais alta causa (isto é, o Supremo Śiva é a fonte de toda manifestação)" (IV, 393-397).

8- जाग्रद्द्वितीयकरः ॥ ८॥ [jāgraddvitīyakaraḥ] ॥ 8॥
जाग्रत् [jāgrat] vigília, desperto* द्वितीय [dvitīya] o segundo, ou seja, o mundo* करः [karaḥ] um resplendor de luz*
(Ele é) aquele que está sempre desperto, ou seja, que está sempre unificado em unmana, para o qual o mundo aparece como sua refulgência de luz
       Kṣemarāja: Tendo obtido o śuddha-vidyām (o conhecimento puro) com total identificação com ele, o yogin permanece desperto (jagrat). Em relação ao seu próprio 'senso do Eu' (o aspecto Aham que consiste no perfeito vimarśa), aquilo que aparece como segundo (a porção Idam ou Isto), ié. o mundo aparecendo como um objeto (para o Eu supremo), como sua refulgência de luz (o sentido é que o mundo aparece como sua própria luz). O Vijnanabhairava diz: "Onde quer que através dos sentidos a consciência do Senhor se manifeste, apenas consciência é o substrato dessa aparência. Percebendo isso, (o yogin) é dissolvido em Cit ou consciência absoluta (que é o substrato do universo) e, assim, experimenta toda a plenitude do ser, ié. há um aspecto completo de bhairava nele "(Verso 117).
O Sarvamangala também, diz: "Existem apenas duas entidades, śakti (energia, poder) e o possuidor daquela śakti. O possuidor da śakti é o grande Senhor (Śiva) e Sua śakti constitui o mundo inteiro ".

9- नर्तक आत्मा ॥ ९॥ [nartaka ātmā] ॥ 9॥
नर्तकः [nartakaḥ] dançarino no palco do mundo, ator* आत्मा [ātmā] self*
Aquele que percebe sua natureza espiritual essencial é o Self que é apenas o ator (no palco do mundo). 
        Kṣemarāja: Ele atua e dança ié. ele exibe em si mesmo, por seus movimentos lúdicos, variados papéis de sua vigília, etc., que são baseados em sua natureza essencial, que é ocultada internamente. Daí seu ātmā é (como) um dançarino ou ator. Como foi dito no verso de louvor proferido pela deusa na sétima seção do Naiśvāsatantra intitulado "Deusa e Deus como dançarino": "Em um aspecto Você é o Ser (ātmā) interior, um dançarino, (em outro aspecto) Você é o preservador de sua natureza essencial como o Ser Supremo."
        Bhaṭṭaśrīnārāyaṇa também diz em seu Stavacintāmaṇi: "Ó Siva, você produziu o drama dos três mundos que contém a verdadeira semente ou fonte (bīja) de tudo que foi manifestado. Tendo apresentado a parte introdutória do drama, Oh Hara, que poeta além de Você está apto a conduzi-lo à sua conclusão" (V 59).
        No Īśvarapratyabhijñā que contém a secreta doutrina de todos āgamas, também diz: "Quando o mundo inteiro está dormindo apenas o Supremo Senhor (paramaīśvaraḥ), aquele que põe em movimento o drama dançante ié. a transmigração cheia de miséria (saṁsāra), está desperto.


10- रङ्गोऽन्तरात्मा ॥ १०॥ [raṅgo'ntarātmā] ॥ 10॥
रङ्गः [raṅgaḥ] palco* अन्तरात्मा [antarātmā] o Self interior, os aspectos sutis e causais que contêm a vida interior do indivíduo *
A alma interior constitui o palco (do Self que é o ator).
        Kṣemarāja: O lugar onde o Self se deleita com a intenção de exibir o drama do mundo é o raṅga ou o palco, ou seja, o lugar onde o Self adota os vários papéis. Antarātmā é a alma ou ser (jīvaḥ) que é interno em relação ao corpo físico. Essa [alma interior] de natureza e forma sutil (puryastaka rupa) é uma manifestação contraída cujo constituinte principal é o vazio ou o prana. [A palavra interior, isto é, jīva, é usada relativamente ao corpo externo]. Tendo plantado os pés nesse palco manifesta o drama do mundo por uma sucessão de movimentos (spanda) dos seus próprios sentidos internos.
       O Svacchandatantra diz "Entrando no puryaṣṭaka (corpo sutil) e movendo-se em todas as formas de existência, ele é conhecido como antarātmā (alma interior), preso pelos vestígios residuais do karma". (XI, 85)

11- प्रेक्षकाणीन्द्रियाणि ॥ ११॥ [prekṣakāṇīndriyāṇi] ॥ 11॥
प्रेक्षकाणि [prekṣakāṇi] espectadores* इन्द्रियाणि [indriyāṇi] os sentidos*
Os sentidos (do yogin) são os espectadores (de sua atuação).
      Kṣemarāja: Os sentidos, como os olhos, etc., do yogin, testemunham interiormente seu íntimo Self cheio do deleite em exibir o drama do mundo (saṁsāra). Pelo desenvolvimento do desempenho do drama, eles fornecem ao yogin a plenitude do êxtase estético em que o senso de diferença (dualidade) desapareceu. Como o Upanisad diz: "Algum homem sábio, desejando provar a imortalidade com olhos revertidos (isto é, introspectivamente), vê o Self imanente" (Katha II, 4, 1).
        "Assim, os órgãos cognitivos de um yogī percebem a natureza real do ser universal de um modo interno, não externo. E quando essa realidade do self é revelada por esses órgãos, então a diferença inerente (vibhāgam) é totalmente destruída e desaparece. Seus órgãos se enchem de alegria universal e independência absoluta (svātantrya)."


12- धीवशात्सत्त्वसिद्धिः ॥ १२॥ [dhīvaśātsattvasiddhiḥ] ॥ 12॥
धीवशात् [dhīvaśāt] através da inteligência espiritual superior* सत्त्व-सिद्धिः [sattva-siddhiḥ] realização da Luz interior do Ser*
Através da inteligência espiritual superior, há a realização da Luz do Self.
        Kṣemarāja: Dhī significa a inteligência proficiente na consciência (vimarśana) da natureza essencial. Através dela, há a realização da sattva que significa o sutil pulsar (spanda) interno da Luz do Ser. No drama também a atuação da condição mental interior é alcançada através do talento da inteligência (buddhi).
        "No comentário sobre este sutra também, há duplo sentido em Sattva e dhi. Sattva neste contexto não se refere ao constituinte de Prakrti, mas o pulsar da perfeita consciência e dhi não significa mera inteligência, mas ṛtaṃbharā prajñā, despertar interior carregado de verdade. O yogin percebe o sattva (a luz da natureza essencial do Ser) através da dhī (a intuição espiritual)."

13- सिद्धः स्वतन्त्रभावः ॥ १३॥ [siddhaḥ svatantrabhāvaḥ] ॥ 13॥
सिद्धः [siddhaḥ] é alcançada* स्वतन्त्रभावः [svatantra-bhāvaḥ] o estado de ser livre, liberdade*
A liberdade é alcançada.
        Kṣemarāja: Siddhaḥ significa "alcançado, atingido"; svatantrabhāva significa 'Liberdade (svātantryam) que é da forma de conhecimento e atividade inerente (sahaja) e pode trazer todo o universo sob seu controle'. 
        Como foi dito por śrī Nāthapāda: "Deve-se recorrer ao Svātantrya Śakti (o poder da Liberdade Absoluta). Ela (Svatantrya Śakti) é Kālī, a Mais Alta (parā) Kalā, Śakti ou Poder. 
      O Svacchandatantra também, diz: "Todos os tattvas (36), todos os seres vivos, todos os mantras e as letras que são conhecidos; estão sempre sob o controle [do yogin] que se realizou como, não-diferente de, Śiva". (VII, 245).

14- यथातत्र तथान्यत्र ॥ १४॥ [yathātatra tathānyatra] ॥ 14॥
यथा [yathā] como* तत्र [tatra] lá no corpo* तथा [tathā] assim * अन्यत्र [anyatra] em outro lugar*
Como ele (o yogin) [pode manifestar a Liberdade] em seu próprio corpo, ele pode estar, também, em outro lugar.
        Kṣemarāja: Como o yogin pode revelar em seu próprio corpo esse poder de manifestação, [esse poder de manifestação] do sempre vigilante yogin, também, pode prevalecer em outros lugares.
        O Svacchanda diz: "Ele (o senhor dos yogins) anda livre no começo, no meio, até o fim". (VII, 260).
        O Spandakārikā também diz: "Esse princípio divino do Spanda deve ser cuidadosamente e fielmente estudado (pelo qual essa classe de órgãos e instrumentos (intelecto, ego, mente e sentidos), embora inconsciente atue como consciente adquirindo o poder de ir em direção a um objeto, mantendo-o em percepção e dissolvendo-o no próprio Ser). Essa liberdade do princípio do Spanda é natural e predominante em todos os lugares. "2 (1, 6-7).

15- बीजावधानम् ॥ १५॥ [bījāvadhānam] ॥ 15॥
बीज [bīja] semente, a fonte do mundo* अवधानम् [avadhānam] atenção (completa)*
Ele deve dar atenção total à Luz ativa da consciência, a fonte do mundo.
        Kṣemarāja: "Deve ser concedida ou prestada" (kartavyam), isso deve ser adicionado ao texto. Bījam significa a fonte do universo - a Luz ativa da consciência, a mais alta Śakti ou poder que é a causa do universo e cuja natureza consiste na cintilante e perfeita consciência do Self. 
       O Mrtyujit (Netratantra) diz: "Ela (Para Śakti) é a fonte de todos os deuses, e das várias Śaktis ou poderes, de muitas maneiras. Esta Matriz é da natureza do fogo e da lua. Dela procede tudo." (VII, 40V no Netratantra). "O yogin deve dirigir sua atenção para ParaŚakti, ié. manter a concentração mental na semente, constantemente."

16- आसनस्थो सुखं ह्रदे निमज्जति ॥ १६॥ [āsanastho sukhaṃ hrade nimajjati] ॥ 16॥
आसनस्थः [āsanasthaḥ] estabelecido no mais alto poder de Sakti* सुखम् [sukham] facilmente* ह्रदे [hrade] no lago, aqui - no oceano da imortalidade* निमज्जति [nimajjati] mergulhado*
Estabelecido no mais alto poder da divina Śakti, ele é facilmente absorvido no oceano da imortalidade.
        Kṣemarāja: Aquilo no qual (o yogin) se senta com um senso de plena identificação, com a unidade ou identidade, é asana ou assento. O "assento" nesse contexto é o poder supremo da Śakti. 'Ele senta lá' significa 'deixar todos os tipos de práticas superiores e inferiores envolvendo esforço como meditação, concentração etc., ele está sempre atento a esse Poder de maneira introvertida'. Sem fazer nenhum esforço, mergulhando (nimajjati) (ié. é identificado-se com o oceano da imortalidade) afogando todas as impressões da limitação do corpo etc. no mais primoroso oceano límpido da imortalidade (hrade) que tem a característica de brotar (ucchalatta yogini) e é a fonte da expansão do contínuo fluxo universal.
        O Mrtyujit (Netratantra) diz: "Nem meditar em algo acima de, nem no meio, nem em algo abaixo, nem na frente, nem atrás, nem em ambos os lados, nem em algo dentro do corpo, nem deve meditar em algo externo. não deve-se fixar o olhar no céu, nem em algo abaixo, nem fechar os olhos, nem manter os olhos abertos, nem piscar, nem meditar em algo como suporte (avalambam) (como imagem, figura etc.) nem sobre a negação do apoio [niralambam] nem sobre um suporte, repetidamente (salambam), nem sobre os sentidos, nem sobre os seres, nem sobre as percepções sensoriais como o som, o tato, o sabor etc. Deixando de lado todo suporte, tendo-se estabelecido em samadhi, só deve permanecer identificado com a mais alta realidade. Diz-se que é o estado mais elevado do Ser Supremo (parama-ātmanaḥ). Essa condição não tem nenhuma aparência externa, nada aparece ou se manifesta nesse estado. Se alguém alcança esse estado, não retorna mais (ié. ele é libertado da existência transmigratória.)" (VIII, 41-45).

17- स्वमात्रनिर्माणमापादयति ॥ १७॥ [svamātranirmāṇamāpādayati] ॥ 17॥
स्वमात्रा [svamātrā] a medida da Consciência, ou seja, aquele aspecto da Consciência que condensa* निर्माणम् [nirmāṇam] produção, criação, fabricação, formação* आपादयति [āpādayati] efeitos, traz, produz*
Ele pode produzir formas de acordo com essa dimensão criativa da consciência na qual está estabelecido.
        Kṣemarāja: Svamātrā significa a dimensão relacionada à sua própria consciência criativa, isto é, o aspecto da essência da consciência que condensa De acordo com a dimensão da criatividade da Consciência, ele produz objetos ou seres como deseja, ié. manifesta as coisas que produz. O Svacchanda diz: "isso só existe como grosseiro, ó querido, devido ao seu desejo de parecer grosseiro. Isso aparece de maneira diferente, se seu desejo for de parecer sutil" (IV, 295).
        O Īśvarapratyabhijñā, diz: "Por causa do poder do pensamento criativo (vimarśaśakti), Ele faz com que ele mesmo se torne o objeto do conhecimento. O objeto não tem existência separada. Se Ele dependesse de um objeto (algo fora de Si mesmo) para a criação, sua liberdade absoluta seria violada". (l. 5, 15).
        Nos Āgamas, também, se diz: "Ó querido, aquele que conhece por meio do que provém da boca de seu guru que a água e o gelo são (essencialmente) o mesmo (é liberado). Para ele, não há nada mais a ser feito. O estado de ter um último nascimento lhe pertence (ié. ele não terá nenhum nascimento posterior), pois, tendo atingido a meta da existência, ele não necessita mais de saṁsāra ou transmigração.
        O mesmo ponto de vista foi exposto no seguinte verso do Spandakārikā: "Aquele que tem esse conhecimento ou compreensão e está constantemente unido (com o Ser Supremo) vê o mundo inteiro como um jogo (divino). Ele está libertado em vida (jīvanmuktaḥ), (sobre isso) não há nenhuma dúvida"(II, 5). "Quando o yogin adquire o poder de śuddha-vidyā, ele está estabelecido na Consciência Criativa e, de acordo com a medida dessa Consciência, ele pode criar criaturas e objetos (vedaka e vedya). A dúvida de que um objeto é inteiramente diferente do sujeito, como, então, o yogin pode criar um objeto, é infundada, pois a própria Suprema Consciência aparece como sujeito e objeto. Quando o poder da ParaŚakti é alcançado, não pode haver dificuldade em aparecer como Sujeito ou objeto, pois a consciência é ambas."


18- विद्याविनाशे जन्मविनाशः ॥ १८॥ [vidyāvināśe janmavināśaḥ] ॥ 18॥
विद्या [vidyā] Sahaja Vidya* विनशे [vinaśe] Tão solitário quanto a vidya não desaparece* जन्मविनाशः [janmavināśaḥ] há desaparecimento (da possibilidade) de outro nascimento*
Quando Suddha vidya é permanente, a possibilidade de outro nascimento [para o yogin] desaparece completamente.
        Kṣemarāja: Enquanto o sahaja ou suddha vidya não desaparecer, isto é, no caso de sua constante aparição como uma realidade emergente, a cessação do (outro) nascimento consistindo da multidão do corpo, dos sentidos, etc., cheios de miséria, e provocado pelas próprias ações (karma), juntamente com a cooperação da ignorância (na forma de āṇava e māyīya mala), é plenamente realizada.
        O Sri-Kanthi diz, "Se deixar o mundo com sua extensão de fenômenos aceitáveis ​​ou rejeitáveis, palha, folha, pedra, junto com os móveis e imóveis existentes, desde Śiva tattva até terra tattva, acompanhados de entidades positivas e negativas, meditando-se sobre todos como Śiva, (o yogin) não precisa passar por um novo nascimento."
        Também no Svacchanda está escrito: "A liberação de uma pessoa adquirida através de uma tradição de mestres espirituais é excelente e pura. Tendo-a experimentado, a pessoa se torna liberada enquanto viva, e depois de (morrer) não nasce novamente."

19- कवर्गादिषु माहेश्वर्याद्याः पशुमातरः ॥ १९॥ [kavargādiṣu māheśvaryādyāḥ] paśumātaraḥ ॥ 19॥
कवर्गादिषु [kavargādiṣu] grupo 'ka' e outros grupos de letras* माहेश्वरी-आद्याः [māheśvarī-ādyāḥ] Mahesvari e outras divindades* पशुमातरः [paśumātaraḥ] que são as mães dos seres limitados e empíricos*
Māheśvarī e outras divindades que atuam no grupo 'ka' e outros grupos de letras e que são as mães de seres limitados (tornam-se suas divindades governantes).

        Kṣemarāja: "Tornam-se suas divindades governantes", isso deve ser adicionado ao sutra. "Consta-se que essa Śakti ou Poder do Criador do mundo está intimamente unida a Ele - Ela se torna icchā (força de vontade) quando Ele quer criar. Observe, como Ela, apesar de uma, torna-se muitas. Ao anunciar categoricamente que "Este cognoscível é assim, e não o contrário" diz-se que ela é jñāna-śaktiḥ (o poder do conhecimento) neste mundo. Mas quando Ela aparece assim: "Que essa coisa se torne de tal natureza e então, ao fazer essa (coisa) assim" diz-se que Ela é kriya-śaktiḥ (o Poder de Ação).
        Sendo assim de dois tipos, ela (Śakti) passa por inúmeras mudanças de acordo com os objetos desejados, é como uma joia do pensamento (cintā-maṇiḥ) que concede ao seu possuidor todos os desejos. Então, quando ela assume o aspecto de mãe, ela é dividida de duas maneiras, nove maneiras, e quando se divide em cinquenta maneiras, torna-se portadora de uma grinalda (mālinī) de cinquenta letras (alfabeto sânscrito). Com a divisão de bīja e yoni, ela é de dois tipos. As vogais são consideradas como bīja (semente). Com ka e outras consoantes, diz-se que ela é yoni. Segundo a divisão dos grupos das consoantes, ela é de nove tipos. Nesse contexto, bija (a vogal) é chamada Śiva e yoni (a consoante) é chamada Śakti. Segundo a divisão de oito grupos de letras, há um grupo de oito divindades, como Mahesvari e outras. De acordo com a divisão letra por letra, ela brilha como cinquenta raios (de cinquenta letras). Também é indicadora dos Rudras, cujo número, também, é cinquenta. (Mālinīvijayatantra III, 5-13).
        Assim, conforme exposto no Mālinīvijayatantra, a Suprema Fala do Ser Supremo se expande, recorrendo às formas de icchā (vontade) jñāna (conhecimento) e kriyā (ação); [continuando a expansão] assume as formas de vogal e consoante, grupos de letras, letras pertencentes a esses grupos, Śiva, Śakti, Māheśvarī e outras divindades, ela se torna Mātṛkā na forma de letras de 'a' a 'ksa'. 
        Em todos os experimentadores, em diversos estados de conhecimento com construção de pensamento e conhecimento sem construtos, Ela realiza a aplicação de palavras grosseiras e sutis por meio da consciência interior. Através das divindades que presidem os grupos e as letras denotadas por esses grupos, ela exibe de várias maneiras maravilha, alegria, medo, atração, aversão etc., e ao ocultar a natureza independente e ilimitada da consciência, ela produz identificação com um contraído, condicionado e dependente corpo.

20- त्रिषु चतुर्थं तैलवदासेच्यम् ॥ २०॥ [triṣu caturthaṃ tailavadāsecyam] ॥ 20॥
चतुर्थम् [caturtham] O quarto estado de consciência* तैलवत् [tailavat] como azeite* त्रिषु [triṣu] nos três estados [de consciência] vigília, sono e sono profundo* आसेच्यम् [āsecyam] deve fluir*
O quarto estado (turya) [deve ser derramado] como óleo, de modo que ele permeie os outros três: vigília, sono e sono profundo.
        Kṣemarāja: Triṣu significa os três estados (vigília, sono e sono profundo). Caturtham, o quarto, significa a condição que consiste no elixir da bem-aventurança cuja natureza é a luz de suddha vidya (conhecimento puro). Tailavat significa "à medida que o azeite se espalha gradualmente e penetra cada vez mais em seus receptáculos", da mesma forma, o quarto deve ser derramado nos estados de vigília, sono e sono profundo. 
        Por meio do mecanismo de firme apreensão, ié. de atenção fixa no Ser, que é uma Testemunha (o yogin) também deve permear o estado intermediário com o elixir do turya (o quarto estado), que eclode nos pontos inicial e final onde existe a cessação de unmeṣa (exibição da manifestação universal), para que a tríade do estado de vigília, sonho e sono profundo possa adquirir a condição de completa identificação com ele (Turya).
        No sétimo Sutra sob a primeira Seção, declarou-se a existência do quarto estado cujo elixir que se difunde nos estados (de vigília, etc., no caso de alguém que está dedicado a obter firmemente a contínua consciência do grupo de poderes, ou simplesmente em alguém no qual ocorra espontaneamente esse Quarto Estado.
        No sutra l- 11, a dissolução da vigília e de outros estados foi demonstrada pelo método do haṭhapāka, (assimilação por meio da força ou obstinação) de acordo com a técnica do Śāmbhavopāya. Por meio do presente sutra, afirma-se que, pela técnica de firmeza apropriada do āṇavapāya, os três estados da vigília, etc., devem se tornar como a bainha de uma espada saturada com o elixir do turya [Assim como uma bainha é diferente da espada, mas pode segurá-la completamente dentro de si, então os três estados são diferentes do quarto, mas podem ser completamente saturados com o seu elixir]. Essa é a diferença entre esses sutras (l- 7, l-11 e o atual).

21- मग्नः स्वचित्तेन प्रविशेत् ॥ २१॥ [magnaḥ svacittena praviśet] ॥ 21॥
मग्नः [magnaḥ] mergulhando, imergindo* स्वचित्तेन [svacittena] com a própria mente* प्रविशेत् [praviśet] deve-se entrar*
Deve-se entrar nele [Turya] mergulhando com uma consciência do Eu interior sem construção mental. [Bhaskara lê svacitte em vez de svacittena e interpreta svacitte como svatmani - em seu Self essencial. Segundo ele, o sutra significa que se deve (mentalmente) mergulhar em seu Self essencial.]
        Kṣemarāja: O Mrtyujit (Netratantra) diz, começando com: "Deve-se abandonar o prāṇāyāma bruto e até o sutil interno, assim a suprema Vibração (spandanam) da consciência que está além do prāṇāyāma sutil é obtida", e terminando com: "entrar no estado mais alto com a mente como um conhecedor" (VIII, 12).
        De acordo com o processo apontado pelo Mrtyujit, deve-se, abandonar os métodos grosseiros como prāṇāyāma, meditação, concentração, etc., deve-se entrar (ou seja, mergulhar em Turya com a mente, ou seja, com uma consciência sem pensamentos cuja natureza é uma alegria interior introvertida da consciência do Eu. De que maneira? Mergulhando nele, ié. extinguindo a ideia do corpo, prana etc. como sendo o conhecedor (o próprio ser como testemunha) por meio de imersão nele mesmo, no elixir da bem aventurança da consciência (cit) em Turya.
        O Svacchandatantra diz: "Abandonando toda atividade mental, o yogin deveria unir-se a Śiva apenas com bodha, ié. uma consciência sem qualquer estrutura de pensamento (bodharūpeṇa). Então adquire o status de Śiva (isto é, identificado com Śiva) e o eu empírico limitado é libertado do oceano da existência transmigratória". (IV, 437)
        O Vijnanabhairava também diz: "Ó querido, quando mente, intelecto, energia vital e eu empírico limitado - estes quatro são dissolvidos completamente, então surge a natureza essencial Bhairava (o Ser Supremo)". (Verso, 138). A mesma ideia foi expressa no seguinte verso de louvor no Jnanagarbha: "Quando, ó mãe, depois de abandonar completamente todas as atividades mentais, surge uma condição esplêndida que liberta do apego às atividades sensoriais, então pela tua graça aquele estado supremo é realizado imediatamente. Nesse estado supremo chove o néctar do ilimitado e felicidade inigualável. Isso foi composto por Pradyumnabhattapada, um aluno de Kallata.

22- प्राणसमाचारे समदर्शनम् ॥ २२॥ [prāṇasamācāre samadarśanam] ॥ 22॥
प्राण [prāṇa] prāṇa, energia vital* समाचरे [samācare] de forma adequada e lenta disseminação* समदर्शनम् [samadarśanam] consciência de unidade*
Quando o prāṇa do yogin se propaga de forma adequada e lenta (então), ele tem consciência de unidade (Turya).
        Kṣemarāja: Prāṇasya significa "do prāṇa" consagrado pelo aroma de Śakti que é o esplendor de Śiva. 'Sam' em samācāre significa Samyak, isto é, pela força de agarrar firmemente o ser interior, na qual todos os nós (granthi) estão abertos, ié. desatados. 'Acare' significa espalhar-se lentamente para o exterior. Samadarśanam significa "consciência que percebe tudo uniformemente como uma massa de bem aventurança da consciência (Cit)". Isso é o que ele experimenta como Consciência de Unidade (Turya). 
        O Ānandabhairava diz: "Desistindo das práticas costumeiras, deve-se recorrer ao não-dualismo que traz libertação. Então a sua atitude para com todos os deuses se torna a mesma, e também para todas as castas e as fases da vida. Ele considera todas as coisas iguais. Ele é livre de todos os vínculos". Portanto, foi dito no comentário sobre o Īśvarapratyabhijñā: "A verdadeira natureza do universo é alcançada por aqueles que se elevaram acima do conhecimento limitado de objetos externos, mesmo que buddhi e prana estejam ativos, eles têm a experiência de todo o universo como o Self."

23- मध्येऽवरः प्रसवः ॥ २३॥ [madhye'varaḥ prasavaḥ] ॥ 23॥
मध्ये [madhye] estágio intermediário* अवरः [avaraḥ] inferior* प्रसवः [prasavaḥ] geração, surgem (estados de consciência)*
No estágio intermediário, surgem estados mentais inferiores.
        Kṣemarāja: No caso do yogin que desfrutou do deleite de Turya (consciência transcendental) nos pontos inicial e final dos três estados comuns de consciência, surgem, na fase intermediária, os estágios inferiores da mente, característicos do curso normal da vida. 
        O Mālinīvijayatantra diz: "Mesmo quando alguém obtém alguma impressão do estado transcendental, se não está alerta, então os vināyakās (demônios) o induzem a prazeres transitórios. Portanto, aquele que deseja obter o estado mais elevado não deve ter nenhum apego por estes prazeres transitórios". Isso, também, foi citado anteriormente (ll- 10).

24- मात्रावप्रत्ययसन्धाने नष्टस्य पुनरुत्थानम् ॥ २४॥ [mātrāvapratyayasandhāne naṣṭasya punarutthānam] ॥ 24॥
मात्रा [mātrā] objetos* स्वप्रत्यय [svapratyaya] sobre a união da consciência do eu real* सन्धाने [sandhāne] dos perdidos* नष्टस्य-पुनः- उत्थानम् [naṣṭasya punaḥ-utthānam] subindo novamente*
Quando a consciência do eu real se une aos objetos, o estado transcendental da consciência [a identidade real] que desapareceu aparece novamente.
       Kṣemarāja: Mātrāsu significa união da real consciência do Eu com objetos. "Tudo o que é percebido através dos olhos, o que quer que se torne um objeto de consciência através da palavra, o que quer que a mente pense, o que quer que o intelecto determine, quaisquer coisas das quais o ego incorpore à consciência empírica, como um objeto de consciência, mesmo o que não existe (ou é apenas uma questão de imaginação ou fantasia), a Luz da Consciência ou Paramaśiva deve ser diligentemente investigada em tudo isso ". (XII, 163-164 no Svacchandatantra).
        Assim, de acordo com o que foi apontado no Svacchandatantra, no caso do yogin que se torna consciente de que a sua natureza é uma compacta massa de Consciência (cit) sempre pensa em todos os casos na forma "Eu (aham) sou esse universo", há novamente o reaparecimento ou surgimento da sua própria natureza essencial, repleta da Bem-aventurança do (aparentemente) removido Turya, devido ao aparecimento de estados mentais inferiores, mencionados anteriormente. [Como o yogin não estava suficientemente atento, Turya ou o Quarto Estado se ocultou dele]. Em outras palavras, o yogin experimenta completa realização em sua identificação com o quarto estado de consciência. 
        O Svacchandatantra, também, diz: "começando com: 'Como a mente dos yogins à força move-se de um lado para outro (atrás de objetos de prazer)'; e terminando com: 'Cuja mente está repleta da Suprema Realidade, estável, totalmente satisfeita em todos os casos, sua mente não se desvia, mesmo quando ele passa por todos os tipos de circunstâncias. Onde quer que sua mente se mova, ele deve pensar em Śiva. Como tudo é Śiva, aonde mais sua mente irá? Na apreensão de todos os objetos, em todos os prazeres dos sentidos - em qualquer condição que o yogin possa se envolver, onde quer que ele possa investigar, não há lugar onde Śiva não exista. "(IV, 311-314 no Svacchandatantra).

25- शिवतुल्यो जायते ॥ २५॥ [śivatulyo jāyate] ॥ 25॥
शिवतुल्यः [śiva-tulyaḥ] semelhante a Śiva* जायते [jāyate] torna-se*
[O yogin] torna-se o próprio Śiva.
        Kṣemarāja: Com a intensa permanência no estado do Turya, ele alcança o estado de Turyātīta (que está além de Turya) e assim se torna igual a Śiva que é perfeitamente puro, absolutamente livre e um infinito campo de consciência e bem-aventurança. Enquanto o aspecto corporal não desaparecer, ele é semelhante a Śiva. Assim que o corpo expirar, ele se torna o próprio Śiva.
        O Kālikākrama diz o mesmo: "Portanto, tendo recebido sempre e indiscutivelmente da boca do guru os meios para a união com Śiva, [segundo os quais] "Deve-se contemplar Śiva sem qualquer pensamento, com dedicação inabalável e com total senso de identificação com Ele, até se tornar Śiva". Isso foi revelado pelo Senhor Bhairava.

26- हरीरवृत्तिर्व्रतम् ॥ २६॥ [harīravṛttirvratam] ॥ 26॥
शरीर [śarīra] corpo* वृत्तिः [vṛttiḥ] permanência* व्रतम् [vratam] voto*
A permanência no corpo é seu voto.
        Kṣemarāja: Como descrito antes, "A respeito do yogin que é como Śiva, ou seja, que vive com a consciência de que Eu (aham) sou Śiva", 'permanecer no corpo é seu voto como ato piedoso'. Em outras palavras, a observância regular de um ato piedoso no caso deste yogin consiste em estar envolvido na glorificação do Supremo sempre presente na forma da consciência da sua própria natureza essencial.
        O Svacchandatantra diz: "Como em fogueira bem acesa, a chama é vista no céu: assim, o Ser (ātmā), embora existindo no corpo e no prana, esta mesclado no estado de Śiva." (IV, 398). De acordo com isto, foi declarado que, embora, o yogin, estar imerso no estado de Śiva ainda exista no corpo, prana, etc., Nenhuma outra observância de um ato piedoso além da manutenção do corpo é apropriada para ele. 
        O Trikasāra diz: "O homem sábio é sempre marcado por mudrās que surgem do corpo. Diz-se que somente ele carrega mudrā. O restante das pessoas certamente carrega ossos"
        O Kulapañcāśikā também diz: "Os poderes superiores (marīcis) só conversam com aqueles que não colocam qualquer marca religiosa perceptível (liṅginam). Eles não se aproximam daqueles que colocam marcas visíveis 'de piedade', porque (tais Poderes Supremos) são muito ocultos e misteriosos (Eles aparecem apenas para alguém que tem realização interna e não acredita em uma demonstração de piedade, colocando uma marca externa.)"

27- कथा जपः ॥ २७॥ [kathā japaḥ] ॥ 27॥
कथा [kathā] conversa* जपः [japaḥ] murmúrio de mantra*
Sua conversa constitui um murmúrio de mantra.
        Kṣemarāja: Ele está sempre cheio da Suprema consciência do Eu (aham), como indicado no seguinte verso do Svacchandatantra: "Eu sou o mais alto Ser (haṃsaḥ); eu sou Śiva, a Causa Suprema", até mesmo sua conversação comum equivale ao murmúrio de um mantra. A consciência do Eu, o Supremo Poder (śaktiḥ), que é onisciente, pertence Àquele que é o maior Deus entre os deuses cuja natureza é a Mais Alta Consciência". Como se definiu no (kālikākrama), qualquer conversa, etc., do yogin que alcançou a consciência natural do Eu (ahaṁ-vimarśa), que consiste no grande Mantra, equivale a japa, cuja essência é a incessante repetição da consciência da deidade (devatā), que é o próprio Ser (ātmā).
        O Vijñānabhairavatantra, também, diz: "Essa contemplação que é feita repetidas vezes no estado mais elevado é japa. Tal Som espontâneo que soa por si mesmo no interior (do Eu) cuja natureza é um mantra constitui o objeto de japa. Este é o tipo de japa sutil que o iogue deve realizar."
        Esse texto também diz: "A respiração é exalada com o som 'Sa' e inalada novamente com o som 'ha'. Portanto, o indivíduo empírico (jīvaḥ) deve sempre repetir o mantra Haṁsa (eu sou Ele), dia e noite, 21.600 vezes. Tal japa da deusa (Gayatrl) foi prescrito, sendo bastante fácil para os sábios, mas difícil para os que não o são."

28- दानमात्मज्ञानम् ॥ २८॥ [dānamātmajñānam] ॥ 28॥
दानम् [dānam] presente, caridade* आत्मज्ञानम् [ātmajñānam] conhecimento do Self *
O conhecimento do Self (ātma) é o presente que ele [aquele que permanece no corpo] dissemina (a todo o mundo).
        Kṣemarāja: Como descrito anteriormente, ātma é consciência universal (caitanya) e jñānam significa sua realização. Dānam significa presente - derivado da raiz da 3ª conjugação, o significado correspondente seria - a natureza essencial perfeita é dada como um presente.
        A palavra dānam também pode ser derivada da raiz da segunda conjugação, que significa 'cortar, dividir'. Nesse sentido, dānam indica que a diferença entre Śiva e o universo é cortada em pedaços.
        A palavra dānam também pode ser derivada da raiz 'dai' da primeira conjugação; significando 'purificar', 'limpar'. Isto indicaria que māyā é purificada pelo conhecimento do Ser.
        A palavra dānam também pode ser derivada da raiz 'di' da 2ª conjugação, que significa 'preservar', sugerindo que a natureza de Siva adquirida por ele está bem preservada.
        O principal significado do Sutra é que o conhecimento do Self é disseminado por ele entre seus alunos. Foi dito com razão: "Os grandes Yogins que estão bem estabelecidos no kulācāra capacitarão as pessoas para a travessia do extenso oceano da existência transmigratória pela sua visão ou toque (Śaktipāta)."

29- योऽविपस्थो ज्ञाहेतुश्च ॥ २९॥ [yo'vipastho jñāhetuśca] ॥ 29॥
यो [yo] Aquele* अविपस्थः [avipasthaḥ] estabelecido no grupo das Śaktis* ज्ञाहेतुः [jñāhetuḥ] meio, instrumento de sabedoria* च [ca] de fato, realmente*
Aquele que está estabelecido no grupo das Śaktis (que adquiriu o domínio sobre as Śaktis) serve, de fato, como um instrumento de sabedoria.
        Kṣemarāja: Avipasthaḥ - (avi - pa - sthah) - 'Avi' significa 'animal'; 'pa' significa "protetor"; 'Avipa', portanto, significa o protetor dos animais, [divindades que protegem os indivíduos limitados (paśū), ié. Māheśvarī, etc., que presidem o grupo de letras como 'ka' etc., e que são paśūn-mātaraḥ (mães de indivíduos limitados)]. 'Sthaḥ' significa que ele está sentado lá, ciente de sua supremacia: ele brilha em toda a sua glória como o senhor daquelas Śaktis. 'Jñā' significa jñāna-śaktiḥ - o poder da sabedoria. Assim 'jñāhetuḥ' significa a fonte ou meio de sabedoria, ou seja, ele é competente para despertar seus alunos através de seu poder de sabedoria (jñāna-śaktiḥ). Como pode alguém que está sob a influência do śakti-cakra, mas que não é senhor de si mesmo, iluminar os outros? Com referência a 'yah' (quem) no sutra, a palavra 'sah' (ele) deve ser adicionada (para completar o sentido), resultando 'aquele que'. A palavra 'ca' neste sutra foi usada no sentido de "na verdade". 
        Uma vez que ele adquiriu o controle sobre o grupo das Śaktis, torna-se um instrumento para despertar o conhecimento, foi dito com razão no Sutra (lll- 28) que ele transmite o conhecimento do Ser (ātma). 
        Outros pontos de vista sustentam que o significado deve ser obtido através da análise das letras...

30- स्वशक्तिप्रचयो विश्वम् ॥ ३०॥ [svaśaktipracayo viśvam] ॥ 30॥
स्व [sva] seu* शक्ति [śakti] poder* प्रचयः [pracayaḥ] desdobramento, expansão* विश्वम् [viśvam] universo*
O universo é o desdobramento de seu poder.
        Kṣemarāja: Do ponto de vista das escrituras que sustentam que "o mundo inteiro é a Śakti de Śiva", esse mundo é apenas uma forma de Sua Śakti. "Seus poderes são o mundo inteiro, etc." o universo é um desdobramento (pracayaḥ) ou expansão (vikāsaḥ) de sua própria Śakti cuja natureza é Consciência (saṁvid). Em outras palavras, é o desdobramento de seu poder criativo (kriya-śakti). 
        O Mrtyujit diz: "Como o Senhor é Jñānamaya ou pura consciência e Seu jnana ou poder de consciência existe em numerosas formas, e como Ele salva os seres limitados e portanto ligados, é chamado Netra." (Netratantra IX, 12)
         O Kālikākrama também diz: "A consciência brilha em várias formas externas e internas. Não há existência de objetos sem consciência. Portanto, o mundo é simplesmente uma forma de consciência. Objetos não são conhecidos por ninguém sem consciência. É a consciência que assume as formas de objetos. É através da consciência que os objetos são determinados. Através da aplicação da afirmação e da negação, existe a divisão dos existentes como positivos ou negativos. A objetividade dos existentes através da operação da consciência é apenas uma forma da própria consciência. Como o conhecimento e o conhecido, ou seja, seus objetos são apreendidos juntos, são eles (conhecimento e seu objeto) um e o mesmo.

31- स्थितिलयौ ॥ ३१॥ [sthitilayau] ॥ 31॥
स्थिति [sthiti] manutenção (da manifestação)* लयौ [layau] reversão a um estado potencial*
A manutenção do estado manifestado e sua reabsorção são também um desdobramento de seu poder.
        Kṣemarāja: "Desdobramento de seu poder" deve ser adicionado ao sutra para completar o sentido. Sthiti ou manutenção (do mundo manifestado) significa aparência externa duradoura do universo que surgiu em conseqüência do kriya-śakti (poder criador), com relação aos vários experienciadores. Laya significa descansar no experienciador (Self) que é pura consciência. Esses dois (sthiti e laya) são apenas uma expansão de sua śakti ou poder criativo. Os vários objetos cognoscíveis que aparecem e finalmente retornam ao seu estado potencial são apenas uma forma de seu poder de consciência, caso contrário (isto é, sem assumir o poder da consciência), a apreensão do mundo seria impossível. 
        Portanto, no Kalikakrama 'através da dualidade existência e inexistência' refere-se apenas a sthiti e laya. Assim, "Aquele que experimenta essa consciência que é inteiramente pura, não depende de qualquer suporte (objeto) para existir e é da mesma natureza que a mais profunda consciência do Eu, é (jīvanmukta) liberado enquanto vivo; não há dúvida sobre isso."

32- तत्प्रवृत्तावप्यनिरासः संवेतृभावात् ॥ ३२॥ [tatpravṛttāvapyanirāsaḥ saṃvetṛbhāvāt] ॥ 32॥
तत्-प्रवृत्तौ [tat-pravṛttau] apesar da ocorrência de manifestações, etc.* अपि-अनिरासः [api-anirāsaḥ] sem intervalo ou mudança* संवेतृ-भावात् [saṃvetṛ-bhāvāt] por causa do estado do conhecedor*
Apesar da manutenção e dissolução do mundo ocorrendo uma após a outra, não pode haver ruptura na consciência do Yogin, por ele ser o sujeito conhecedor.
        Kṣemarāja: Apesar da ocorrência, isto é, da emergência da manifestação, etc., não pode haver uma ruptura ou uma mudança na consciência do Yogin por causa dele ser um conhecedor repleto da bem-aventurada consciência do quarto estado de consciência (Turya), pois se houver uma pausa no conhecimento, não há manifestação.
        Como já foi dito, no Kālikākrama: "Com o desaparecimento dos fenômenos provocados por avidya (ignorância), a natureza essencial da consciência não desaparece. Como a consciência é livre de aparição ou desaparecimento, não pode haver desaparecimento real do conhecimento. Considerando (inclusive) a própria avidya que se diz aparecer ou desaparecer figurativamente; Como se pode dizer que Ela (ié. samvit ou consciência) desaparece, se tem a natureza da permanência?
O mesmo ponto foi explicado nos seguintes versos do Spandakārikā: "Diz-se que existen dois estados nesse (princípio do Spanda): o estado de ação e o estado de criação. Dentre eles, o estado de ação é perecível, mas o estado de criação é imperecível", e "Somente o esforço que é direcionado à ação desaparece nesse (Turya). Quando esse (esforço) desaparece, só um tolo pensaria 'Eu desapareci'. Não há nunca cessação desse estado ou natureza interna que é a moradia do atributo da onisciência, por causa da não percepção de outro" (I, 14-16).

33- सुखासुखयोर्बहिर्मननम् ॥ ३३॥ [sukhāsukhayorbahirmananam] ॥ 33॥
सुख-असुखयोः [sukha-asukhayoḥ] de prazer e dor* बहिः-मननम् [bahiḥ-mananam] considerando como externo*
[Este Yogin] considera o prazer e a dor como algo externo.
        Kṣemarāja: Este Yogin considera o prazer e a dor nascidos do contato com objetos como um mero "Isto" - como algo externo a si mesmo como o azul etc., não como o povo comum considera, como algo pertencente ao próprio Eu.
        Quando o sutra lll- 30 diz que o universo é um desdobramento de sua śakti (poder criador), significa que todo o universo aparece impregnado pela sua consciência do Eu. Isso não significa que experiências particulares como prazer e dor sejam identificadas com sua consciência do Eu. Isto é o que este sutra pretende sugerir. Como pode o Yogin, cuja identificação com o corpo sutil com o sujeito já foi eliminada, ser afetado com prazer e dor?
        O mesmo foi dito no Pratyabhijñāsūtravimarśinī: "Aqueles que transcenderam o estado do sujeito limitado - e entraram no estágio de um sujeito real (Śiva) - não experimentam prazer e dor, mesmo quando são apresentados por suas respectivas causas. Em vez disso, o prazer e a dor não são produzidos em seus casos, pelas causas; prazer e dor estão ausentes no que lhes diz respeito. 
        Eles têm apenas a experiência da felicidade natural da suprema consciência". Esta verdade foi claramente exposta no seguinte verso de Spandakārikā: "Quando não há prazer nem dor, nem objeto, nem sujeito (limitado), nem estado de estupefação ou insensibilidade - é o estado da Realidade Absoluta." (l, 5)

34- तद्विमुक्तस्तु केवली ॥ ३४॥ [tadvimuktastu kevalī] ॥ 34॥
तत् [tat] disso: prazer e dor* विमुक्तः [vimuktaḥ] completamente livre* तु [tu] então* केवली [kevalī] isolado, estabelecido em seu real Self*
Estando completamente livre da influência do prazer e da dor, ele está absolutamente isolado (plenamente estabelecido em seu verdadeiro Self como pura consciência).
Kṣemarāja: 'Tat' do sutra significa (tabhyam), ié. de prazer e dor. 'Vi-muktah' significa especialmente liberto, ou seja, interiormente intocado mesmo pelos vestígios residuais (de prazer e dor). 'Kevali' significa alguém cujo conhecimento consiste em pura consciência. O Kālikākrama diz: "O Yogin deve obter o fruto do yoga destruindo a barreira da ilusão (a dualidade) fabricada pela multiplicidade de pensamentos baseados na cognição e em sensações como prazer, dor etc."

35- मोहप्रतिसंहतस्तु कर्मात्मा ॥ ३५॥ [mohapratisaṃhatastu karmātmā] ॥ 35॥
मोह [moha] ilusão* प्रतिसंहतः [pratisaṃhataḥ] retraído* तु [tu] mas* कर्मात्मा [karmātmā] envolvido em boas e más ações*
Mas aquele que é destruído por essa ignorância está envolvido em boas e más ações.
        Kṣemarāja: Moha deve ser interpretado, no sentido instrumental - mohena, ié., com ilusão, ignorância (ajñāna). Pratisaṁhataḥ significa “quem é retraído por essa ignorância, essa ilusão” (moha). Ele não é o experienciador de dor e prazer como é um yogin. Portanto, ele é aquele que está envolvido no karma (ação), ié., está sempre manchado com boas e más ações. 
        Também, o Kālikākrama diz: "Quando envolvido em avidya (ignorância) e devido ao uso de várias construções mentais, não se compreende imediatamente todos os tattvas (princípios) começando com Śiva como seu próprio Self, então estados bons e maus da mente aparecem; e sob o Influência de avidya, ampla miséria acumula-se sobre ele devido às más ações ".

36- भेदतिरस्कारे सर्गान्तरकर्मत्वम् ॥ ३६॥ [bhedatiraskāre sargāntarakarmatvam] ॥ 36॥
भेद [bheda] dualidade, diferença* तिरस्कारे [tiraskāre] remoção, desaparecimento* सर्ग-अन्तर [sarga-antara] reino natural, variedade de vida* कर्मत्वम् [karmatvam] outra criação*

Quando desaparece a dualidade, resulta (ao yogin) a capacidade de criar um reino natural diferente.
        Kṣemarāja: Bheda significa diferença ou dualidade apropriados para os experimentadores como, sakala, pralayakala etc. cujas naturezas estão relacionadas às identificações com seus respectivos receptáculos como corpo, energia vital, etc. Tiraskāre significa (no desaparecimento) quando há eliminação da dualidade existente devido ao surgimento da consciência que aparece aos experimentadores superiores denominados Mantra; Mantreśvara e Mantramaheśvara. Então aparece a capacidade de criar outro mundo de acordo com o seu desejo.
Assim, o Svacchandatantra tendo declarado (o seguinte) o desaparecimento da diferença ou dualidade no seu caso devido à semelhança com Svacchanda: "Com o triplo japa, o yogin se tornaria semelhante ao Svacchanda (Bhairava)", logo após disse: "Entre os deuses Brahma, Visnu e Indra, e, também, entre os siddhas, daityas e reis de serpentes, ele se torna o criador e o dissipador do medo por sua graça. Ele esmaga o orgulho do Kāla (tempo) e derruba até montanhas ". (VI, 54-55 no Svacchandatantra)

37- करणशक्तिः स्वतोऽनुभवात् ॥ ३७॥ [karaṇaśaktiḥ svato'nubhavāt] ॥ 37॥
करणशक्तिः [karaṇaśaktiḥ] o poder de criar* स्वतः [svataḥ] do seu próprio* अनुभवात् [anubhavāt] por experiência*
Pode-se perceber a capacidade de criatividade a partir da própria experiência.
        Kṣemarāja: O próprio poder criativo ou capacidade para criar diversas coisas extraordinárias está bem estabelecido a partir de sua própria experiência. Com essa intenção, o Pratyabhijna diz: "Portanto, do poder da concepção (avabhāsanāt - Jñānaśakti) e execução (Samullekha - Kriyāśakti) de acordo com o desejo da pessoa, isto é, o poder de conhecer e fazer (jñāna-kriye) de todos os seres vivos é claramente estabelecido. " (VI, 11 no Īśvarapratyabhijñā).
        Se esse (Yogin), com firme e forte determinação, deseja se manifestar mediante Vimarśa (Consciência do Eu), então, também aparece o estado de criação de coisas. Ele pode, de acordo com o seu desejo, também criar algo comum a todas as pessoas. 
        O Tattvagarbha diz: "Quando os Yogins brilham com manifesto poder de criatividade, sua falta de estabilidade e força é despedaçada de maneira firme e imediata, e então seu poder da vontade torna-se um Kalpataru (uma árvore que concede todos os desejos)".

38- त्रिपदाद्यनुप्राणनम् ॥ ३८॥ [tripadādyanuprāṇanam] ॥ 38॥
त्रिपद [tripada] dos três estados (manifestação, manutenção e reabsorção)* आदि [ādi] principal, proeminente* अनुप्राणनम् [anuprāṇanam] avivamento*
Dos três estados, deve-se vitalizar pelo principal (que é Svatantrya Śakti cheio de felicidade criativa)".
Kṣemarāja: Dos três estados: de manifestação (srsti), manutenção da manifestação (sthiti) e reabsorção (laya) - caracterizados pela orientação a objetos, apego aos objetos e assimilação interna dos objetos; o que é o principal é o estado chamado Turya (o estado transcendental) cuja bem-aventurança pervade os outros três (ou seja, vigília, sono, sono profundo). Essa felicidade transcendental, embora velada por Māya-śakti, aparece (por um instante) como um relâmpago na ocasião do desfrute de vários objetos de prazer. Portanto, embora essa felicidade apareça apenas por um instante nas várias ocasiões, deve-se vitalizar com ela. Anuprananam ou avivar-se significa vitalizar-se, seguindo cada vez mais a consciência da bem-aventurança existente no interior. Isto é, deve-se animar a si mesmo com essa vitalidade. 
        O mesmo foi dito no Vijñānabhairava: "Ela (parasakti) é uma felicidade que se pode experimentar, ela só pode ser conhecida quando alguém está liberto de todas as construções do pensamento. Ela é um estado do próprio Ser (Bhairava), daí ela é conhecida como Bhairavi, a Śakti do Bhairava. Ela é aquela cuja natureza essencial é cheia do deleite da unidade do universo. Ela deve ser conhecida essencialmente como a forma pura que preenche (impregna) todo o universo." 
        E, em seguida, esse tema é tratado extensamente no Vijñānabhairava por uma série de versos que mostram os meios de aproximação a esse Mais Alto Estado da Deusa: "Na hora da relação sexual com uma mulher, uma absorção nela é provocada pela excitação e o prazer final que segue o orgasmo denota o deleite de Brahman, este deleite é do próprio Ser. (Não vem de nada externo. A mulher é apenas uma ocasião para a manifestação desse deleite). 
        Ó Deusa, mesmo na ausência de uma mulher, há uma inundação de bem-aventurança ao lembrar de maneira total o prazer experimentado com uma mulher na forma de beijar, abraçar, pressionar etc. Quando se obtém uma grande alegria ou quando se vê um parente, amigo, etc. depois de muito tempo, após meditar na alegria que surgiu, identifica-se com ela (e) dissolve-se nela. A partir da expansão da alegria relacionada ao sabor que surge dos atos de comer (e) beber, deve-se meditar sobre a condição perfeita dessa alegria, e então a pessoa se tornará tomada de grande bem-aventurança. Quando um yogin mentalmente se torna um com a incomparável alegria da música e de outros objetos, devido à exaltação de sua mente, ocorre uma identificação com isso (ié. com a alegria incomparável), porque ele se torna um com ele (Supremo Brahma). 
O mesmo tema foi dito no Spandakārikā, começando com: "O princípio do Spanda é estabelecido naquele estado em que é colocado um homem que está extremamente exasperado ou excessivamente encantado ou está totalmente perplexo, refletindo 'O que eu devo fazer?' ou correndo para lá e para cá (por sua vida)" (I, 22) e terminando com "... (No entanto, um yogin que) não esteja coberto (pela escuridão da ignorância) permanece desperto e iluminado (nessa mesma condição)" (Spandakārikā-s I, 25)
        No sutra Trisu caturtham (III, 20), foi dito que os três estados de vigília, sono e sono profundo deveriam ser vitalizados com o quarto estado; no presente sutra, foi dito que em todas as condições nos estados inicial, interveniente e final, em manifestação, manutenção da manifestação e dissolução, deveria haver uma vitalização da consciência com o elixir do quarto estado na maneira descrita acima. Este é o ponto especial sobre este sutra.

39- चित्तस्थितिवच्छरीरकरणबाह्येषु ॥ ३९॥ [cittasthitivaccharīrakaraṇabāhyeṣu] ॥ 39॥
चित्तस्थिति [cittasthiti] estados mentais* वत् [vat] como, semelhante* शरीर [śarīra] corpo* करण [karaṇa] órgãos dos sentidos* बाह्येषु [bāhyeṣu] externo*
Como no caso dos estados mentais, do mesmo modo, no caso do corpo, órgãos dos sentidos e coisas externas, deve haver vitalização com a bem-aventurança da consciência transcendental.
        Kṣemarāja: Assim como ele deve realizar a vivificação através do Turya com relação ao estado mental interno, deve-se praticar a interpenetração dos três estados pelo Turya. Embora a mente esteja voltada para fora durante a vida consciente do corpo, sendo acompanhada pelo (quarto), vai ficando gradualmente mais forte em cada estágio.
        O Vijnanabhairava diz: “Deve-se pensar em todo o universo ou em seu corpo como sendo cheio de bem-aventurança, ele, então, é imediatamente cheio da suprema bem-aventurança devido ao seu próprio Néctar”. Assim, enquanto o poder da bem-aventurada (Turya) se manifesta em todos os estados, ele se torna capaz de criar de acordo com seus desejos. Deste modo, em cada e todo estado da vida, a energia da independência absoluta (svātantrya śakti), que é preenchida com a suprema felicidade, dá-lhe tudo o que você deseja.
        E, inversamente, quando esse estado interno do Turya não é constantemente mantido com consciência, então a consciência do eu no corpo, a consciência do eu no puryaṣṭaka e a consciência do eu no prāṇa e śūnya existem e ele sente que está absolutamente incompleto. Então o desejo aparece nele.

40- अभिलाषद्बहिर्गतिः संवाह्यस्य ॥ ४०॥ [abhilāṣadbahirgatiḥ saṃvāhyasya] ॥ 40॥
अभिलाषात् [abhilāṣāt] desejo *बहिः-गतिः [gatiḥ-bahiḥ] extroversão* संवाह्यस्य [saṃvāhyasya] indivíduo empírico*
Por causa de um sentimento de desejo, há uma extroversão do indivíduo empírico que é levado de uma forma de existência para outra.
        Kṣemarāja: Um saṁvāhya é um ser limitado envolvido no karma que junto com os kañcukas (revestimentos de Māyā), o aparato psíquico interno, os sentidos externos, os tanmatras e os elementos grosseiros regidos pelo grupo das śaktis, são conduzidos de uma forma de existência para outra. 
        Como descrito no Svacchandatantra com as palavras: "em tal caso, o desejo é a condição limitante e maculante", há extroversão por conta de āṇavamala conhecida como ignorância (avidyā) que consiste no sentimento de imperfeição. Bahirgatih ou extroversão significa que nele há sempre uma inclinação e interesse pelos objetos externos, e nunca uma atenção à natureza interior. 
        O Kālikākrama diz: "Uma vez que a pessoa está envolvida em avidyā (ignorância primordial) e assim devido ao uso de construtos do pensamento, não compreende imediatamente todos os tattvas começando com Śiva como seu próprio Eu, portanto estados bons e maus da mente aparecem e sob a influência de avidyā, miséria intensa acumula-se devido a más ações. Por causa da falsa ideação (fantasias), são atormentados infernalmente e castigados por seus próprios vícios. Devido às idéias ilusórias, essas pessoas colhem o fruto de avidyā; elas adquirem um corpo que é produto de Māyā e tornam-se receptáculos da aflição."

41- तदारूढप्रमितेस्तत्क्षयाज्जीवसंक्षयः ॥ ४१॥ [tat ārūḍha pramitestatkṣayāt jīvasaṃkṣayaḥ] ॥ 41॥
तत् [tat] aquilo (estado turya)* आरूढ [ārūḍha] estabelecido* प्रमितेः [pramiteḥ] a consciência do yogin* तत् [tat] aquilo (o desejo, discutido no aforismo anterior)* क्षयात् [kṣayāt] remoção* जीव [jīva]  o ser limitado* संक्षयः [saṃkṣayaḥ] remoção total*
Para o Yogin cuja consciência está firmemente estabelecida no quarto estado (turya), ocorre o fim do estado do indivíduo empírico com o fim do desejo.
        Kṣemarāja: 'Tat' significa 'o quarto estado' (Turya). 'Ārūḍhā' significa consagrado a, estabelecido. E, 'pramiteḥ' significa no caso desse yogin. Assim 'Tadārūḍhapramiteḥ' significa o yogin cuja mente está estabelecida naquilo (Turya). 'Tadkṣayāt' significa com o fim do desejo.  'Jīva-saṅkṣayaḥ' significa o kṣayā ou anulação do jīva (ser limitado), ié. do estado onde se considera o corpo sutil (puryaṣṭaka) como o verdadeiro experimentador (pramātṛ): "o Yogin aparece brilhantemente (sphurati) no estado de Experimentador real, que é Consciência pura".
        Isso também está no Kālikākrama: "Como alguém que vê certos objetos no sonho, mas não os vê quando acordado, da mesma forma, contemplando o Ātma, o yogin não vê o mundo como mundo (mas sim como a glória e o esplendor de Śiva). 
         Similarmente: Rejeitando modos mentais como existentes e não-existentes, recorrendo à posição intermediária entre os dois, renunciando às criações da imaginação como diferente e não-diferente por meio do não-dualismo, ele ( o yogin) que está sempre consagrado ao seu Eu essencial e tem a intenção de destruir a própria morte, e é dedicado ao estado de isolamento (kaivalya), pode atingir o estado de Nirvana". Kaivalyapadabhag (dedicado ao estado de isolamento) significa aquele que não pode ser carregado pelos seus sentidos (indriyas) e tanmātras.

42- भूतकञ्चुकी तदा विमुक्तो भूयः पतिसमः परः ॥ ४२॥ [bhūtakañcukī tadā vimukto bhūyaḥ patisamaḥ paraḥ] ॥ 42॥
भूत [bhūta] os cinco elementos brutos* कञ्चुकी [kañcukī] como um véu* तदा [tadā] então* विमुक्तः [vimuktaḥ] libertação do saṃsāra* भूयः [bhūyaḥ] supremacia* पति [pati] Śiva* समः [samaḥ] igual* परः [paraḥ] perfeito*
Então, com o fim do desejo, ele usa o corpo dos elementos grosseiros apenas como cobertura e ao ser liberado é soberano como Siva, a suprema realidade.
        Kṣemarāja: 'Tada', então, a partir da eliminação do desejo, jīva-saṅkṣaye significa 'fim da identificação do sujeito com o corpo sutil'. Assim, bhutakancuki significa 'aquele cujos elementos grosseiros que formam o corpo são como kañcukī, ou seja, como revestimento separado que nem sequer toca o estado do 'Eu'. Tal pessoa é totalmente liberada, e desfruta o Nirvana. Visto que ele é soberano (bhuyah) como Śiva, ou seja, possuidor da consciência do Senhor Supremo, ele é perfeito (purnah). De acordo com o sutra Sarira-vrttirvratam (111, 26), embora ele exista no corpo que para ele é como um mero invólucro, ele não é tocado nem mesmo por uma impressão residual da noção de que o corpo, é o verdadeiro experimentador ou conhecedor.
        O Kularatnamālā também cita: "Quando o excelente guru revela ao discípulo aquele mistério (da consciência divina), então ele (o discípulo) é indubitavelmente libertado naquele exato momento e depois permanece no corpo apenas como um instrumento. Quanto mais [tempo], então, o yogin [deve permanecer concentrado] no Mais Alto Brahma? Se ele está estabelecido no mais alto Brahman por um só momento, ele é libertado e liberta outras pessoas"
        No Mrtyujit também foi dito: "Se alguém percebe a Realidade mesmo pelo tempo de um piscar de olhos, ele é liberado imediatamente e não adquire outro nascimento". (VIII, 8). No Kulasāra também, a mesma ideia foi expressa no seguinte versículo: "Que eminência gloriosa desta verdade, Ó Divina, se alguém a tiver intelectualmente assimilado e a transmitir a outra (lit: para outra orelha), até aquela [que recebe] é liberada instantaneamente".

43- नैसर्गिकः प्राणसम्बन्धः ॥ ४३॥ [naisargikaḥ prāṇasambandhaḥ] ॥ 43॥
नैसर्गिकः [naisargikaḥ] natural* प्राण [prāṇa] a energia vital* सम्बन्धः [sambandhaḥ] conexão, associação*
Essa conexão com a força vital universal (prāṇa) e o corpo físico ocorre naturalmente porque o sopro vital é a própria vida.
        Kṣemarāja: A conexão ou associação (sambandhaḥ) da energia vital (prāṇa) com o corpo é natural, provém de nisarga ou natureza, cuja essência é a Liberdade Absoluta (Livre-arbítrio Absoluto) do Self (svātantrya). A suprema consciência, com desejo de manifestar diversidade no universo, inicialmente recorre ao princípio da contração, assume o estado de experimentador limitado (jīva) que é uma forma adotada por prāṇanā (energia vital universal) [para a manifestação, a consciência divina, inicialmente, se transforma em prana. Este prana é a força vital universal que traz tanto o sujeito (grahaka) quanto o objeto (grahya)], cuja essência é sphurattā ou a vibrante Luz da Consciência pura que manifesta o universo inteiro, mas em uma forma contraída ou limitada    (saṅkoca).
        Encontramos a mesma ideia expressa no Vājasaneyā: "Aquela Shakti (Poder Divino) que é a suprema, sutil, onipresente, absolutamente pura, auspiciosa, mãe do todo grupo de poderes (śakti), a suprema bem-aventurança, cuja natureza é o néctar que confere imortalidade, a senhora das mahāghorās (poderes terríveis que subjugam os seres limitados), a terrível (caṇḍā) pois oculta sua própria natureza essencial, e aquela que produz (kārikā) a manifestação (sṛṣṭi) e a reabsorção (saṁhāra) do universo. Ela, pela força, manifesta e retira o Tempo, que aparece como três fluxos ou correntes, ié. o tempo flui através dos canais sutis denominados Iḍā, Piṅgalā e Suṣumnā. O Tempo surge na forma de lua, sol e fogo, os quais representam o objeto cognoscível, o conhecedor ou sujeito e o conhecimento, respectivamente (trividham), e assume três aspectos: passado, presente e futuro.
        O Svacchandatantra também diz: "A energia vital aparece no indivíduo como prāṇa e apāna com a função de exalação e inalação. Existe dentro do tórax dos seres vivos, sempre transmitindo vida. Como ela transmite a vida é conhecida como prana." (VII, 25).
        O Svacchandatantra no seguinte versículo: "Diz-se, certamente, que a letra 'ha' é energia vital que ocorre por si mesma, automaticamente e tem a forma de um arado (na caligrafia Sarada, a letra 'ha' tem a forma de um arado cuja parte superior simboliza a exalação e a parte inferior simboliza a inalação)" (Ver IV, 257).
        Diz-se que ser o produtor da manifestação e da reabsorção na forma de emissão e preenchimento pertence à energia vital ou prāṇa porque está repleto do vigor e poder cuja natureza é o mais digno de adoração o Svacchanda (Bhairava) Absolutamente Livre. Então, foi dito corretamente: "O vínculo ou associação da energia vital com o corpo é natural"
        Portanto Bhatta kallata, a fim de confirmar a causalidade do prana disse no Tattvartha-cintamani - "A consciência é, em primeiro lugar, transformada em prana".

44- नासिकान्तर्मध्यसंयमात्किमत्र सव्यापसव्यसौषुम्णेषु ॥ ४४॥ [nāsikā antarmadhya saṃyamātkimatra savyāpasavyasauṣumṇeṣu] ॥ 44॥
नासिका [nāsikā] a energia do prāṇa (prāṇaśakti)* अन्तर्मध्य [antarmadhya] centro interno* संयमात् [saṃyamāt] intensa consciência* किमत्र [kimatra] a esse respeito, o que mais* सव्य [savya] direito* अपसव्य [apasavya] esquerdo* सौषुम्णेषु [sauṣumṇeṣu] o do meio*
Quando há energia vital nos três canais, mantendo a constante e perfeita consciência do Eu no aspecto interno da prāṇaśakti, então ele permanece sempre o mesmo. O que mais poderia ser dito a este respeito?
     Kṣemarāja: Nos principais de todos os canais prânicos, isto é, na esquerda (ida), direita (pingala) e na do meio, sushumna, flui o nāsikā ou prāṇaśakti. A palavra 'nāsikā' é derivada da seguinte maneira - 'nasale, ou seja, a que flui em ziguezague, ié. pranaśakti. 'Antar' significa o aspecto interno desta prāṇaśakti, ou seja, a consciência. 'Madhya 'significa o centro dessa consciência interior, ou seja, 'vimarśa' ou Consciência do Eu. Sendo a mais íntima de todas, essa é a Realidade principal ou central, a saber, a Suprema consciência do Eu. 
        De acordo com o verso seguinte do Kālikākrama, a consciência central do Eu é a mais elevada Śakti. "Daquele Deus que é maior que todos os deuses, e que é a suprema consciência em si, ou seja, prakāśa - a mais elevada, é a sabedoria de vimarśa ou Eu, é o supremo poder (śaktiḥ), que é onisciente, cheio de sabedoria."
        Usando o que foi expresso no Kālikākrama; Pelo samyama ou intensidade da consciência interna repetida daquela suprema consciência do Eu, existe (o que deve ser dito neste assunto) em todas as condições, radiante, mais elevado nirvyutthānaḥ-samādhiḥ, que brilha em todos os estados, sob todas as circunstâncias.
        O Vijñānabhairava diz: "A consciência da relação sujeito-objeto (grāhaka-grāhya) é comum a todos os seres encarnados. Os yogins têm, no entanto, essa distinção, de que estão sempre atentos a essa relação" (isto é, estão sempre atentos ao 'para-pramata', o sujeito metafísico sem o qual não pode haver tal coisa como um objeto", (verso-106)".

45- भूयः स्यात्प्रतिमीलनम् ॥ ४५॥ [bhūyaḥ syātpratimīlanam] ॥ 45॥
भूयः [bhūyaḥ] uma e outra vez* स्यात् [syāt] existe* प्रतिमीलनम् [pratimīlanam] consciência do Divino tanto interna como externamente*
No caso deste yogin, há uma e outra vez a consciência do Divino tanto interna como externamente.
        Kṣemarāja: O yogin que está profundamente absorvido na consciência do Eu Superior (parayogabhiniviṣṭasya) tem um 'pratimīlana' [prati (novamente, em retorno) + mīlana (ato de fechar os olhos)] desse universo que surgiu da natureza essencial da consciência fundamental. 'Pratimīlana' significa tanto a percepção interior do Divino (nimīlana), e a percepção externa do Divino (unmīlana). Ele agora vê o universo repetidamente com uma consciência na qual os traços residuais da diferença desapareceram completamente (Vigalitabhedasamskaratmna). O yogin tem uma experiência na qual ele é internamente absorvido na Suprema Consciência Divina (nimīlana); novamente quando ele se volta para o universo, ele o experimenta da mesma forma que sua própria Consciência Divina essencial (unmīlana). A mesma ideia foi expressa no seguinte verso do Svacchanda-antra: "Ó Deusa, além do Samanā, há o estágio unmanā; a pessoa deve unir-se a si mesma. O eu unido a isso torna-se completamente idêntico a isso" (IV, 332).
       Novamente (no mesmo Svacchandatantra): "Assim como o fogo que se elevou puro e radiante do combustível não entra nele novamente, mesmo assim, o Ser que surgiu do Ṣaḍadhvā foi liberado de todo Āṇavamala, Kārmamala e Māyīyamala, etc., e está além de toda a inquietação e febre da vida. Embora ainda permaneça no mundo, ele não está vinculado a isto, ié. não é atraído para os prazeres do mundo, porque ele agora é soberanamente livre de todos os malas (limitações). e permanece perfeitamente puro ". (X, 371-372). 
       Ao dizer 'bhūyaḥ syāt' (é novamente) a intenção do sutra-kara (compositor dos sutras) é esta - que o estado de Śiva deste yogin não é algo novo, mas sim sua própria natureza essencial. Somente por causa da perversidade das próprias construções mentais trazidas por Māyāśakti, o aspirante não foi capaz de reconhecê-lo, o tempo todo. Só se manifesta agora adotando os vários meios descritos neste livro. Que haja bem-estar (para todos)!


॥ इति ॥ ॥ iti ॥ ॥ Fim ॥





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